Por um tempo mais humano

Férias escolares, principalmente no inverno, demandam grandes doses de paciência. Pais planejam verdadeiras operações, em conjunto com avós, tios e dindos, para dar conta de uma galerinha carente de sol e atenção, mas que esbanja demasiada energia.
Na última quarta-feira, dentro da programação do 38º Encontro Municipal de Educação, professores da nossa rede municipal participaram de uma palestra sobre humanização com Jorge Antônio Trevisol, doutor em Educação. Dentre as reflexões propostas, uma, em especial, mexeu na minha maior ferida, o tempo: a criança é tão conectada e presente que não se preocupa com o amanhã.
Segundo Trevisol, quando deixamos a infância para trás, começamos a criar máscaras para enfrentar o mundo, nos distanciando, muitas vezes, do nosso verdadeiro eu porque nos perdemos nesse caminho que é crescer e humanizar-se. Na minha opinião, tudo o que a gente quer, quando começa a crescer, é encontrar o nosso lugar no mundo, e é preciso muita paciência nessa caminhada de tentar achar esse lugar e, quem sabe, depois, entender que esse lugar nem existe.
A plenitude, por exemplo, que poderia ser a nossa filosofia, a busca das nossas vidas, tornou-se regra, exigência. Há uma síndrome de urgência contaminando os nossos dias; vivemos apressados e distraídos. E essa nossa pressa não deixa de ser uma fuga.
A tecnologia também nos rouba um bocado de paciência. O que representam os segundos que a gente leva para visualizar uma mensagem diante da espera pelas cartas que recebíamos antigamente? Ainda assim nos impacientamos. Não temos mais calma no trânsito, ao usar o controle da tevê, nem para lembrar o passado. O que importa é o futuro, e corremos para ele, sem nos darmos conta de que a sensação, ou a tentativa de fazer o tempo passar mais rápido, faz um mal imenso para nossa saúde: má alimentação, insônia, fadiga…
Na quinta pela manhã, n’outro momento do Encontro, assistimos à apresentação da Banda Marcial da EMEF José Pedro Steigleder. Para gente como eu, que participava dos antigos desfiles cívicos, a batida da banda é sempre uma emoção a mais. Para nós, professores da JPS, que convivemos com essa gurizada, assistir a mais uma de suas apresentações, desta vez diante de um público tão distinto, é motivo de orgulho.
A banda da JPS é genuinamente pertencente aos alunos. O Mestre da Banda, Michael Vinícius, é um ex-aluno da escola que, espelhado na dedicação daqueles que o antecederam, tornou-se voluntário e nosso grande parceiro. O tempo que os alunos dedicam às atividades da banda é outro tipo de tempo, mais amoroso e humano. E ele, com certeza, passa muito mais devagar.
Num dos textos de Rubem Alves, ele nos fala de jabuticabas: compara o tempo das nossas vidas a uma bacia de jabuticabas que, num primeiro momento, comemos à vontade. Porém, à medida que a bacia vai esvaziando, passamos a saborear as frutas cada vez mais devagar. Impossível dizer quantas ainda restam na bacia.
O tempo desacelerado, tempo de tudo aquilo que fazemos com amor, com certeza, passa mais devagar. Um tempo mais humano. Necessitamos mais desse tempo nas escolas e nas nossas vidas. Afinal, o inverno, as férias, a infância, tudo acaba.
Jabuticabas também.

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