Juízo final

Tudo pronto pro início da partida. Urnas posicionadas. Autoriza o árbitro.
Final de campeonato, senhores. Carteira de Trabalho mexe na bola. O time do Povo começa o jogo e os Presidenciáveis partem pro ataque… Disputa de bola. Disputa de poder.
A bola tá rolando nessas eleições!
Olha o lançamento. Mais uma candidatura! De Esquerda no ataque. Armou a jogada.
Bola fora!
O time do Povo precisa reagir; tá perdendo faz tempo. Tá precisando de pontos. Precisando de saúde, educação e segurança. Precisando até de comida, porque tá fraco demais.
Cobrança do Cheque Especial. Da Direita vem com tudo. Chega rasgando e leva a bola.
Cruzamento; vem bola pra área. Tentativa frustrada do Povo com Aposentadoria.
A posse de bola continua com a equipe dos Presidenciáveis. É muito jogador “impitimado”, quer dizer, expulso. Ainda assim, segue na vantagem.
Conservador passa a bola pra Liberal. Minutos antes, no vestiário, deu briga entre os dois; um chamou o outro de gaveteiro. Mas agora é a vez do espírito de equipe; conchavos falando mais alto. Da Direita acelera dentro da grande área. Escanteio pro Povo!
Na arquibancada, segue a choradeira: grita o vendedor de coxinha, grita o vendedor de mortadela e o pessoal sem voz, sem dinheiro pra nada. Nem um frango pra torcida! Enquanto isso, lá em cima, a turma do caviar comemora que o Camisa Doze nunca sai do zero a zero. E que tudo sempre se resolve no tapetão. Ninguém dá bola.
Olha a Inflação subindo na zona de perigo! Calote mata no peito e chuta pro gol…
Tira o goleiro do Povo.
Vaia pro time dos Presidenciáveis. Parece que a torcida acordou, minha gente…
Fúria dos Presidenciáveis. Fraude vem pra cima. Chuta pra Larápio.
Na arquibancada a torcida gigante adormece ao som de um funk.
Passe de bola pra Velhaco. Ele golpeia o Desempregado na grande área. Saldo! Não tem fundo! É pênalti, senhor Juiz!
Ué? O Juiz tá do outro lado, distraído, posando pra foto com o Cartola!
É briga! É briga, minha gente! Chama a polícia! Pega ladrão!
Roubaram a bola!
E o meu voto!

Pra refletir: “Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos.” Nelson Rodrigues

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