Doze anos

Eu estranhei quando vi o guri procurando o casaco. Logo ele, com a cabeça sempre nas nuvens, preocupado com algo tão mundano. Disse que tinha um encontro marcado, que estava atrasado e “tchau”, para mim e para o casaco que permaneceu atirado sobre o sofá, me fazendo companhia.
“Está crescendo”, ri comigo mesma, enquanto eu me acomodava entre a sensação, pequena, de preocupação e a outra, um pouco maior, de saudosismo.
Lá fora, ele pegou a bicicletinha e eu, aqui dentro, ainda perdida nas minhas lembranças, num lugar entre a janela e a poltrona, observava o guri de 12 anos partindo para algum lugar entre a infância e a adolescência. Descendo a ladeira de casa, onde, há apenas alguns anos, ele vibrava ao sentir um frio na barriga. Hora de experimentar novos frios… (e esqueceu o casaco!).
Penso que ainda é só um menino. Um guri que se perde em suas brincadeiras, no tempo. Em seu tempo. Na letra da música do Chico: “O futebol de rua/ sair pulando muro/ olhando fechadura e vendo mulher nua.” Um menino descobrindo frios na barriga.
E penso “quem não gostaria de voltar aos seus 12 anos?” Aos primeiros e irremediáveis, infindáveis!,frios na barriga? Talvez não à data, à idade exata, mas voltar a ter tanto horizonte pela frente. Voltar, quem sabe, ao primeiro amor – primeiro encontro com seu coração? Aos dias de descobrir que o tal amor é um sentimento imenso, mas que, ainda assim, cabe e faz doer dentro do peito. Dias de oscilar entre amadurecer ou permanecer criança. Será todo o tempo do mundo suficiente para tanta vida?
O guri custa a chegar. Tenho a impressão de que faz tempo que partiu, mas as horas não passam. Estará atrasado? O relógio.
A tarde lá fora se despede, e um céu infinito de tons rosados acolhe a sua juventude de braços abertos. Dentro de mim cai a noite, e as matizes cinzentas da maturidade consolam a mãe que vê o filho crescer: a vida segue seu rumo. Um frio na minha barriga.
Os 12 anos são feitos de dúvidas. E a gente corre, sempre corre, de encontro ao futuro, para descobrir, logo ali adiante, que a vida permanecerá sempre uma grande incógnita. E para mais tarde nos perguntarmos “pra que tanta pressa?”
Que pressa é essa que faz deixar para trás o abrigo e crescer tão ligeiro? Tenho esperança de que seja, também, para ver os pais lembrando o agasalho esquecido e, de repente, se dar conta de que não cresceu tanto assim. Que ainda temos tempo e sempre precisamos de cuidado.
Suspiro acariciando o que ficou para trás: um casaco.
Um guri com pressa. Aos 12 anos. Talvez chegasse tarde para o primeiro encontro. Mas cedo demais para tanto amor nessa vida.

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