Sempre inicio meus textos pelo título. Geralmente é ele que me traz inspiração, que me dá o norte para ir adiante. Dessa vez foi diferente; primeiro veio o tema, urgindo: o ódio. Rascunhadas as ideias, e, então, pronta a crônica, o título era iminente: depois do ódio. Porque eu não queria apenas falar do ódio, mas dizer que passou, falar que temos que mudar. E daí que veio o problema: há bem pouco tempo o Pedro Stiehl publicou um texto aqui, nessa mesma coluna, chamado Crônica para depois do ódio.
Com a devida licença do Pedro, gostaria de lhes falar que o ódio está presente em nossas relações desde o nascimento. Exacerbado, caminha para a crueldade, torna-se terrorismo, acaba em barbárie. O ódio que, muitas vezes, é o motor que move o homem a tomar pequenas atitudes, também pode ser a turbina que gera grandes catástrofes, fazendo-nos investir nas mais diferentes cruzadas no intuito de combater a todos que não comungam de nossas ideologias, religiões ou raças. Aqueles que não comungam do nosso ódio! Voltando-nos, até mesmo, contra os nossos, pois é tênue a linha que o separa do amor.
Vivemos um momento delicado e eu não sou ingênua a ponto de acreditar em sua extinção. O que não podemos deixar acontecer é a perda dos nossos princípios éticos e morais, e da nossa vida, inclusive, maquinando formas de quitar o prejuízo que nos foi causado algum dia. Confundindo justiça e vingança.
Sobre o caso da professora agredida pelo aluno, vendo de fora, como eu vejo, vingança seria dizer que foi bem feito e incitar novas agressões; justiça seria uma ressocialização para os dois, que sofrem do mesmo mal: o ódio exacerbado. Sobre a perseguição dentro dos quadros do magistério, vingança seria também tentar prejudicar quem nos prejudicou. Mas há uma frase atribuída a Gandhi, que diz “Olho por olho, e o mundo acabará cego”. Faz sentido. Justiça, no magistério, é constituir uma categoria unida, que impedirá essas pessoas de sacrificarem seus colegas em troca de cargos e uns trocados. Justiça é igualdade condições, aplicadas a todos nós, inclusive a quem perseguiu. Não precisamos odiar para termos nossas lutas também.
Odiar nos faz gastar energia demais com quem não merece e direcionar indiferença às nossas relações; já pensaram nisso?
O não revidar o ódio que nos foi infringido por tanto tempo é caro demais. Além do esforço que nos custa, é desconhecido aos pobres de espírito. E se a nossa opção é por não odiar,não é porque nos julgamos melhores, ou porque somos bobos, mas porque somos pessoas normais e, não, lunáticos cruéis. Depois do ódio muita gente pode achar que não restou nada inteiro. Mas, depois do ódio, agora sim, teremos respeito.
Eu ouso falar um pouco mais de perto com alunos e professores, com as suas famílias: a falta de um olhar mais humano faz muita diferença. E estamos todos carentes de quem olhe por nós.
O texto do Pedro Stiehl, ao contrário desse meu desabafo, é poético. É muito bonito e merece ser lido muitas vezes. Mas traz consigo um aviso: “Pare! Não leia esta crônica agora. Espere para lê-la depois do ódio.”
Eu já li. E você, pode ler?