Migração é o termo que utilizamos para indicar a mobilidade das pessoas de um determinado local para outro. Os fluxos migratórios ocorrem desde os primórdios da humanidade e podem ser determinados por vários fatores.
Dentre as causas que mais têm influenciado as correntes migratórias nos últimos tempos, apontamos a política e a economia que, forçosamente, nos exigem mudanças: de país, região, emprego. De postura. É comum, ou esperado, que o passar dos anos, a aquisição de experiência e novos conhecimentos traga amadurecimento e outros posicionamentos.
Ocorre que, no panorama atual, essas mudanças têm exigido demais da gente, não é mesmo? Migramos de uma ideia à outra, pois nada mais é o que parece ser. Verdades, mazelas e mentiras estão ali, expostas para que cada um possa confrontá-las com a sua realidade e acreditar no que melhor lhe convier. O acesso à informação, a democratização de opiniões e a velocidade dos tempos fizeram com que, apesar de sermos todos tão diferentes, já não percebamos nossos limites. Invadimos, apontamos e rotulamos. Invariavelmente nos defendemos afrontando os demais.
Cada palavra proferida é o código para uma tomada imediata de partido, nos comprometendo e confundindo: injustiça social, machismo, preconceito, vandalismo, intolerância religiosa (taí duas palavras que não combinam!)… Repensar o mundo, um mundo melhor, pode ser muito chato, mas é necessário e urgente. E, esse cenário, onde tudo é tão fugaz, onde tudo muda a todo instante, exige, para além do jogo de cintura, a abertura do pensamento para que possamos, ao menos, tentar compreender o que nos cerca. Colocar-se acima do bem e do mal eu já não sei o que é: sinônimo de ingenuidade, tolice ou prepotência?
O ressentimento causado pelas opiniões não compartilhadas, ou que alguns não podem, sequer, suportar, é vil. Mas eu ainda acredito que a humanidade, salvo os psicopatas, não andam por aí desejando o mal ao outro apenas porque pensamos diferente. Relativizar formas de ódio e violência é loucura; é mais daquilo que já vivemos e tentamos abolir.
Seguimos correntes; muitas vezes nadamos contra elas. Às vezes, contra a maré, outras contra nós mesmos. Migramos de um lado para o outro, fazendo nossas apostas de que dias melhores virão. Somos todos retirantes, fugindo de uma enorme estiagem de esperança.
O caminho das nossas incertezas é longo, e seria, sim, muito mais simples se obtivéssemos todas as respostas prontas. Mas aprendemos a pensar e agora é tarde: escolhemos ser nômades e viver o nosso direito à dúvida. Nossa história recente revela que somos um povo perdido: não sabemos em quem acreditar, nem para onde correr. Será que nossos heróis morreram mesmo de overdose?
Isso eu também não sei, como não sei muita coisa e sigo duvidando de outras tantas. Talvez os excessos sejam, mesmo, todos nossos e, enquanto isso, os inimigos é que estão (e se perpetuam) no poder.