Cinco minutos sem você. Assisto ao tempo passando mais rápido do que eu gostaria. Minha companhia é o desespero; o que ficou por dizer é a sílaba aberta de uma saudade crescente…
Trinta minutos de uma dor aguda. Da falta de ar, da falta do seu beijo. Dessa falta de você. Trinta minutos do dar-se conta de que o amor é mais um sobrevivente que, ao meu lado, resistirá. Do dar-se conta de que o amor não é o toque, não é o beijo e, sim, a falta infinita das suas mãos e lábios.
Duas horas sem você e recolho o que ficou para trás: uma camisa de botões, um disco do Lenine, um par de meias furadas e uma imensa saudade. Boto o disco a rodar; uma sessão de nostalgia que me toca. Tudo é tão recente; um amor tenro, um lamento palpitante. E tudo faz lembrar o que era antes. Antes de a gente deixar de ser “nós dois”.
Quase um dia inteiro e as coincidências alimentam minhas esperanças. O universo estaria conspirando para nos unir novamente? Por que sempre há algo que me lembra você? O corte do pão, uma nuvem no céu?
Três dias de uma privação incurável: bilhetes esparramados, estrelas caídas, calendários riscados. As flores e seus pendões. Conto os dias, os passos, todas as formas possíveis dessa distância doída do último dia em que estivemos juntos.
Há saudade demais! E, apesar dos átimos de calmaria, ela está viva. Forte e impetuosa, como uma condenada, em fuga com suas correntes, vertendo melancolia, transbordando a agonia de estar há mais de uma semana sem você.
Um mês e uma festa. Uma possibilidade de me aproximar. Eu poderia aparecer, dizer “oi, sumido”, mas preferi sumir também. Dar espaço para que a saudade, quem sabe, também lhe contagie.
Quarenta e três dias e mais alguns versos inacabados.
Sete meses e a porta continua aberta.
Oito meses e, de repente, desperto do meu “sonhar-acordado” com a campainha tocando. Será? Oito meses e dois minutos; fecho a janela depois de dizer que não, você não mora mais aqui.
Um ano e uma página marcada, Neruda e a poesia pungente: “… é quando o amor ainda não foi embora, mas o amado já… é amar um passado que ainda não passou”.
Faz tempo desde o nosso último encontro. Olho mais uma vez a sua fotografia no celular antes de fechar os olhos e abraçar o travesseiro que ainda carrega o seu perfume. Um ímpeto de ligar e dizer algumas bobagens, ou mesmo de ficar quieta, como sempre. Palavras, já não as tenho; apenas o sentimento, teimoso, insiste em ficar.
Mais algumas horas. Outros anos. Gim, vodka e a sensação de ausência que não quer me abandonar.
É muito tempo sem você!
Não; na verdade são apenas sete anos. É pouco, para quem precisava de uma vida inteira com você.