A Solenidade da Assunção de Nossa Senhora quebra a sequência de leituras da liturgia do Tempo Comum, mas não o percurso de celebração do mistério salvívico. Esta solenidade representa uma afirmação de fé alicerçada no mistério pascal: Jesus ressuscita como primícias dos que morreram, como atesta o apóstolo Paulo na Segunda Leitura. Por isso, o Evangelho e a Primeira Leitura deste domingo falam sobre o mistério de Jesus, a resposta do salmo aponta para o lugar ocupado por Maria em virtude de sua resposta positiva à missão que lhe fora confiada por Deus, e por isso, com o salmista, contamos: “à Vossa direita se encontra a rainha, com veste esplendente de ouro de ofir” (sl 44).
O Evangelho desta solenidade apresenta duas mulheres que se solidarizam e se auxiliam. Ambas estão grávidas: Isabel está grávida de João Batista, o anunciador do Messias. Maria, a nova arca da Aliança, carrega dentro de si o Deus humano. Dessas duas mulheres – uma idosa e estéril e outra jovem não casada – não se esperaria que pudessem engravidar, mas possuem dois ventres cheios de vida. São mulheres que reconhecem o agir do Espírito de Deus em seus corpos, um estéril e outro virginal. Além das mulheres, temos o encontro de duas crianças ainda no útero de suas mães. Isabel cheia do espírito Santo e de alegria, saúda e acolhe Maria com belo hino que a proclamava bendita entre as mulheres e a identifica como a mãe do Senhor. Até o fruto do seu ventre exulta de alegria.
Por sua vez, em resposta à Isabel, Maria proclama o cântico do Magnificat (“engrandece”). Nesse hino, ela exalta a ação de Deus em favor dos pobres e humilhados e reconhece que sua misericórdia se estende sobre os que o temem. Maria é mulher forte que luta pela igualdade e pela superação das injustiças, e seu cântico exprime como que o caminho a ser trilhado por seu Filho Jesus. O final do Evangelho nos diz que Maria ficou três meses com Isabel. Isso lembra a história da arca da Aliança, que permaneceu três meses na casa de Obed – Edom (2Sm 6,1). Maria, portanto, é a nova arca da Aliança, porque carrega dentro de si o Deus encarado. A misericórdia de Deus sinalizada pela antiga Aliança, realiza-se plenamente na pessoa de Jesus. João a reconhecesse, isso, o que explica seus pulos de alegria ao acolher a novidade.
A Solenidade da Assunção nos leva a refletir sobre o encontro dessas duas mulheres. Encontro possível graças à sua intimidade profunda com o Deus da vida. Como diz o Papa Francisco, “a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas” (LS 240). Maria, antes de “subir ao céu”, desceu ao encontro dos pobres e marginalizados, os preferidos do Pai.
Sugestão de reflexão: Renovo minha fé em Deus quando tudo à minha volta parece mostrar que Ele me esqueceu? A exemplo de Maria – minha mãe do céu – não fujo quando estão precisando de ajuda? Sei agradecer a Deus e aos irmãos, sobretudo na minha casa?
“Maria é elevada ao céu, alegram-se os coros dos anjos”.
Pe. Luciano Royer
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