Silvinho e os Tex

Quem me conhece sabe que sou um eterno guri. Por mais que envelheça – e esta semana fiquei oficialmente mais velho – e que a carcaça sofra com a ação corrosiva do tempo. E por mais que as lições duras da vida tenham me tornado um tanto seletivo (não perco tempo discutindo como ignorante, por exemplo, ou gente cabeçuda, ou asnos de qualquer espécie). Ser seletivo ameniza a tensão e evita o estresse. Tenho que cuidar da minha saúde. Tenho filhos fantásticos e uma enteada muito gente boa que ainda quero ver trabalhando comigo no combate ao crime. Então, bora lá valorizar quem merece, quem tem humildade e generosidade no coração, e que os recalcados e mercenários de ocasião sigam mergulhados nos seus mundinhos de babaquices.
Uma dessas coisas que me emociona é ler Tex. Na infância e adolescência, minha mãe fez muitas buscas comigo em bancas de revistas usadas no Mercado Público de Porto Alegre e do viaduto da Borges atrás desses gibis. Pra quem não sabe, Tex foi criado há 70 anos pela dupla italiana Bonelli e Galep, e até filme virou nos anos 80, com Giuliano Gemma no papel do ranger e ex-procurado Tex Willer, um cara que, ao lado do filho, do parceiro Kit Carson e do índio Jack Tigre, passa o tempo fazendo justiça, enfrentando arrogantes e prepotentes e restabelecendo a ordem natural das coisas onde a ganância e a bandidagem tentam dominar. Confesso que Tex sempre foi minha inspiração na vida policial.Tex é um homem simples do povo, mas com coragem e sem enrolação pra defender esse povo de malandros armados com revólveres ou canetas maldosas.
Eu conheci Tex em 1980, numa casa de praia que Dona Isabel alugou aos meus pais, nas férias. Havia uns quantos exemplares dentro de um baú. Eu lia de tudo, era rato de biblioteca, e ali encontrei a maior leituras daquelas férias escolares. Como eram todos antigos, pensei que não existiam mais. Até que, um dia… Minha mãe comprava na antiga Casa de Carnes, ali na Olavo, entre a Ramiro e a Capitão Cruz. Entediado (ela era amiga de todo mundo e ficava horas batendo papo), fui à porta. Então, na calçada do outro lado da rua, pendurado no mostruário da Árvore de Ouro, vi um Tex. Novinho! Capa azul celeste, edição especial número 88, “A marca do dragão”. Eu que não pedia nada pra minha mãe, aquele dia pedi. Assim iniciou minha coleção.
Discos de rock ou blues, jogo de botão do Brasil de Pelotas ou livros, Tex estava acima dessas paixões. Até que fui embora, fazer minha estrada. Os Tex ficaram pra trás. Aí, quarta, o Silvinho (Sílvio Volkweis, mas a gente sempre chamou de Silvinho, como ele me chama de Oscarzinho) deixa lá na mãe dois grande pacotes. Eu desconfiei sobre o que era, mas não quis acreditar. Só quando abri. Bah, e ali estavam eles. Meus velhos exemplares de Tex. Guardados por mais de 30 anos. Sabe o que é isso, um amigo teu guardar teus gibis por mais de três décadas? E guardar com cuidado? Com carinho? Eu me emocionei ao ver o nome de um dos filhos dele, o Leonardo, em algumas capas. Criança, levou ao colégio, pra leitura. Agora estão aqui comigo de novo. Cada gibi daqueles é uma história de emoção, de saudade, de sensações perdidas lá atrás que amo recuperar. Foi como voltar no tempo e me encontrar guri, feliz, ainda sem as marcas que só faziam parte daquelas histórias. Sim, eu chorei. De emoção. Mas olha, não vou contar isso pro Silvinho, tá?

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