A religião do umbigo

Eles não creem em Deus Pai todo poderoso e etc. Eles também não creem em deuses astronautas, deuses gregos, alternativos ou quiçá inventados. Eles tampouco aceitam verdades alheias. Em quem eles creem? Em si mesmos. E se idolatram. E se veneram. Apostam em si, investem em si, rezam a própria cartilha e tentam espalhar aos quatro ventos a sua própria palavra como a única aceitável neste mundo. Porque, eles, são os donos de todas as verdades absolutas e definitivas. São a última bolachinha do pacote. Quem são eles? Os seguidores de, quem sabe, uma nada nova seita, mas que nestes dias de redes sociais vive tempos gloriosos. Seita ou religião? Depende do ponto de vista. Particularmente, creio que seja religião. Seitas são rompimentos. E esse grupo não rompeu com ninguém, até porque nunca aderiu a nada além do seu próprio eu. Os outros são os outros e só. Ilhas. Sempre com olhos apenas para si. Quem são? Pergunta boba. Quem não os conhece? Perto de cada um de nós, sempre há um deles. São os adoradores do próprio umbigo.
E os adoradores de seu umbigo amado salve-salve só legislam em causa própria. Só se movem por interesse, que é o seu (fique bem claro) e só se aproximam de alguém se for pra ganhar algo em troca. Poder ou prazer, tanto faz. Tem que valer a pena. E, quando chega a algum lugar na vida, essa gente cria uma rede de adoradores que orbita em torno do seu umbigo como satélites. Geralmente são pessoas de poucas oportunidades, ou mínima capacidade de vencer por seus próprios méritos, até alguns covardes que aceitam o rumo da maré para sobreviver sem se incomodar. Um perigo. O ser humano é ingrato, adora zombar dos prepotentes que o usam e, no primeiro momento possível, se vingam. Que horror. No fundo, é que eles também nutrem o sonho de ver seu umbigo brilhar um dia. Só o alugaram temporariamente porque é o que a casa oferece. Tá na regra do jogo.
O puxa-saco, ah o puxa-saco! Ele não é um sujeito fiel. Só se faz de tolo por conveniência. Puxa-saco é um inço. Tranca o avançar das engrenagens porque não consegue somar, apenas faz número. Como também são esses caras que protagonizam absurdos e bizarrices pra ter seus poucos minutos de fama. As redes sociais, se democráticas por um lado, por outro deram holofotes para essa tribo de rancorosos e recalcados de toda ordem. Talvez algum psicólogo tenha uma explicação científica para esse fenômeno. Eu não arrisco. Fracassados, nada além? Umbigos em busca de luz? Pode ser. Como a religião do umbigo é ampla, apesar de ser templo de um homem só, eles são vários e estão espalhados por aí, à cata de palanque para sua parafernália de autoidolatrias. Só que não tem espaço nem luz que abrace tanto umbigo em disputa.
Quem são eles? Olhe para o lado, vai reconhecê-los. Megalômanos, egocêntricos, egoístas, exibicionistas ou nada além de miseráveis morais camuflados de baluartes da perfeita ordem. Destilam frustrações sob a falsa égide da livre expressão. Talvez se masturbem ao agredir pessoas. Valentes de longe, quando frente a frente, olho no olho, se portam como pobres galinhas chocas: mal se mexem, no medo de quebrar os ovos. Mas creem em si. E, desconfio, um adorador de seu umbigo jamais sofrerá de depressão. Eles se amam. Só eles, claro. Mas isso é um detalhe.

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