Montenegro, mais uma vez, não conseguiu eleger ninguém da cidade para o Congresso Nacional ou – na opção com mais chances de concretização – para a Assembleia Legislativa. Dos 48.461 eleitores aptos a votar no Município, só 15.788 optaram por nomes com ligação com a cidade para a Assembleia. Em comparação, o candidato eleito com o menor número de votos entrou com 24.946.
Matematicamente, assim, teríamos condições de eleger ao menos um representante local, com proximidade e conhecimento para defender demandas estratégicas do Município. Mas é a quarta eleição seguida – desconsiderando o atual deputado Airton Lima, que perdeu a tentativa de reeleição e vive na cidade há pouco mais de três anos e meio – que ficamos sem nenhum titular para nos representar. É lamentável.
O que se tira dessa eleição, no contexto local, é o fortalecimento do vereador Talis Ferreira (PP) como liderança política municipal e regional. Dos 11.109 votos conquistados, 6.877 foram em Montenegro, evidenciando o potencial de sua imagem na região. O número relevante de seguidores que angariou nas redes sociais durante anos de trabalho como comunicador – especialmente de matérias policiais -, os dois mandatos de vereador e o apoio do Progressistas, em nível regional, lhe renderam boa visibilidade. O resultado o credencia para uma nova tentativa a deputado e, já há quem aponte, quem sabe até a uma candidatura a prefeito.
Num sentido parecido, o resultado da eleição também coloca Camila Oliveira (Republicanos) como um nome relevante da política local. Vereadora em primeiro mandato, mas com forte ligação ao movimento conservador bolsonarista, ela vem construindo uma rápida caminhada de destaque. O resultado – 6.819 votos no total – pode até ter frustrado a candidata e a direção do partido, que investiu no seu nome, mas certamente a projeta para alçar novos voos local ou, principalmente, regionalmente.
Apesar de constar no ranking como a segunda dos candidatos locais com mais votos no geral – desconsiderando Airton Lima – Camila ficou atrás de Paulo Azeredo (PDT) dentre os preferidos do montenegrino. Ela fez 3.097 votos em Montenegro enquanto Paulo fez 3.339. Mostra o trabalho da vereadora ao estender suas asas para outros municípios, focando também nas regiões Carbonífera e Vale do Taquari; enquanto Azeredo mantém alguns eleitores fiéis, por aqui, desde o tempo de sua primeira eleição.
Contudo, o ex-deputado estadual que, em cinco mandatos, representou a cidade na Assembleia, contabilizou apenas 4.940 votos no total. O resultado, diferente dos estreantes, é ruim para alguém com sua trajetória. A leitura que pode ser feita é de que o eleitor montenegrino já não o quer de volta no parlamento. E não ajudou, nesse sentido, que Paulo Azeredo ressuscitasse velhas pautas, como a do trem-bala, durante a campanha.
Em relação aos demais postulantes, não houve surpresas. Dentre os locais, na sequência ficou Chacall (Patriota), com 2.461 votos no geral, quantia menor do que obteve em 2018. Bem mais longe, Mc Pedrão (Psol), com apenas 479 votos e pouco do apoio que mirava ao buscar representar a periferia de todo o Estado e o movimento Hip Hop. Por fim, ficou Ana Maria Antunes (Patriota) com 288 eleitores. O futuro deve trazer alguns desses de volta, provavelmente já nas eleições municipais. E, no presente, seguimos dependendo de pessoas de fora – os parceiros angariados entre um apoio daqui e outro apoio de lá – para defender nossas demandas na Assembleia Legislativa.
Ameaça de impugnação também atrapalhou Paulo Azeredo na reta final
O “fantasma” da impugnação prejudicou, de fato, mais uma tentativa de eleição de Paulo Azeredo (PDT) a deputado estadual. Após uma decisão do Tribunal Regional Eleitoral que indeferiu a sua candidatura, ele recorreu e o processo foi parar no Tribunal Superior Eleitoral, onde ainda aguarda julgamento. Pela falta de definição – que pode acabar sendo favorável a ele ou não – o candidato pôde receber votos normalmente no domingo. Mas houve um movimento de opositores que tentaram fazer o eleitor entender que isso não ocorreria.
Circulou nas redes sociais até uma peça processual da ação – apenas o parecer da procuradoria que, efetivamente, opinava à favor da inelegibilidade de Azeredo. Na provável busca por fazer com que os votos do ex-prefeito migrassem para um ou outro candidato, a publicação afirmava que o parecer tratava-se de algo definitivo, o que não é. Espalhou, assim, a notícia de que ele estava inelegível em caráter definitivo.
Paulo chegou a registrar boletim de ocorrência na delegacia por difamação contra o autor da postagem e fez lives dizendo estar sendo vítima de perseguição. Mas aquela não era a única publicação do tipo; e o boato se espalhou com bem mais rapidez do que o esclarecimento. Para o político, o mau desempenho nas urnas é resultado disso.
Trocando “elogios”
Quinta-feira, sessão solene na Câmara de Vereadores marcou a entrega do título de cidadão montenegrino ao ex-vice-prefeito Ricardo Senger; homenagem merecida por sua trajetória na cidade. Senger é um dos principais nomes do Partido Progressistas em Montenegro, sigla que abrigou o prefeito Gustavo Zanatta por muitos anos; e o discurso de ambos na cerimônia, ainda que em meio a sorrisos e declarações sobre confiança, carinho e respeito mútuo, pareceu transparecer uma certa troca de farpas. Tudo bem publicamente.
“Acho que tá aprendendo”
“Ele tá numa escolinha. Eu acho que tá aprendendo e, a partir do ano que vem, ele vai começar a ser prefeito”, discursou Ricardo Senger, reconhecendo que são grandes as dificuldades da Administração Municipal que é comandada por Zanatta já por, praticamente, dois anos. Destacando que tem tido abertura junto ao prefeito para apresentar sugestões, Senger emendou: “agora que ele aprendeu um pouco de Política, ele vai dar uma volta com a gente para darmos umas ideias de cidade para ele melhorar Montenegro”. Ele citou, especialmente, questões de arborização e melhorias na beira do rio.
“É dias de luta e dias de glória”
“A gente vai estar sempre aprendendo na Política, né Ricardo!? Independentemente da idade de 20, 30, 40, 50, 60 ou 70 anos”, mencionou Zanatta em seu discurso ao homenageado. Reconhecendo que ambos já tiveram embates no passado, ele disse que Senger tem grande papel no incentivo para que se tornasse prefeito. Foi pelo Progressistas que Zanatta concorreu em 2016, pela primeira vez. Foi do Progressistas, também, do Governo Kadu, que Zanatta herdou a Prefeitura em 2021. “É dias de luta e dias de glória. Ainda estamos em um momento de dias de luta porque tivemos que fazer toda uma reestruturação na Prefeitura. Se Deus quiser, a partir do ano que vem, eu começo a colher esses frutos”, projetou.
Passagem rápida
Cristian Souza encerrou na quinta-feira a sua passagem pela Câmara de Vereadores como suplente de Camila Oliveira pelo Republicanos. Sua passagem foi bastante tímida, sem projetos, pedidos de providências ou indicações protocolados. Seu uso da tribuna foi limitado a agradecer aos eleitores e ao suporte dos demais vereadores pelo apoio e orientações. Se a titular fosse eleita, ele voltaria para finalizar o mandato por dois anos, mas não rolou.
Pelo interior
Falando em suplentes, tomou posse na quinta-feira Cláudio da Rosa, o “Claudinho do Sobrado” (foto), que assumiu a cadeira de Paulo Azeredo pelo PDT. Ele deve permanecer até a próxima semana. Em sua fala na tribuna, logo após ser empossado, ele agradeceu familiares, eleitores e colegas do partido. Também indicou suas demandas prioritárias: uma creche no Muda Boi, uma creche em Costa da Serra e um posto de Saúde em Costa da Serra.
Difícil compreender
Se Paulo Azeredo se elegesse deputado, quem assumiria pelo restante do mandato seria Rodrigo Corrêa, o primeiro dos “reservas” do PDT na Câmara. Mas no sábado pré-eleições, este surpreendeu ao disparar mensagens pedindo apoio a outro candidato: Gerson Burmann, e não Azeredo. Corrêa também é presidente do PDT em Montenegro.