Não tem como saber, ainda, se as eleições para prefeito e vereadores, agendadas para outubro, serão realizadas nesse momento. É possível que o pleito seja adiado para dezembro, mas, pelo sim e pelo não, alguns partidos estão se mobilizando para a disputa. E, neste momento, uma das prioridades dos dirigentes é encontrar, entre os filiados, mulheres dispostas a buscar uma cadeira na Câmara. De acordo com a legislação, pelo menos um terço das nominatas de cada sigla deve ser do sexo feminino. Supondo que não consigam, estas vagas simplesmente se perdem porque não podem ser ocupadas por homens.
Apesar de todas as conquistas da mulher nos últimos 50 anos, a Política ainda é um reduto majoritariamente masculino. Na Câmara de Montenegro, das dez cadeiras, apenas duas são ocupadas por mulheres. Na Assembleia Legislativa, das 55 vagas, elas estão com nove (16%) e, na Câmara dos Deputados, somam 77, o que corresponde a somente 15% do total. A proporcionalidade de gênero é praticamente a mesma no Senado: 12 mulheres e 69 homens, o que significa que representam meros 14%.
Estes números sugerem que as evidentes incursões, com sucesso, no mercado de trabalho e a crescente ocupação feminina de espaços nas universidades não se confirmou na Política. Os parlamentos seguem quase tão machistas quanto há 24 anos, quando a Câmara de Montenegro, por exemplo, já tinha duas representantes do sexo feminino: Rose Almeida, que segue lá; e Iolanda Hofstätter. A pergunta é: por quê?
Não existe apenas uma resposta, mas é possível arriscar que os próprios partidos talvez sejam os grandes culpados. E pelo mesmo motivo que não se vê o surgimento de novas lideranças: medo de renovação. A cada eleição, parece que as opções à disposição dos eleitores são as mesmas. Verdade que, em 2016, os montenegrinos substituíram 90% dos seus vereadores, mas também é fato que, entre os eleitos, vários já haviam concorrido antes. De modo geral, a preocupação com a participação da mulher só ganha destaque quando o pleito se aproxima e é preciso preencher a cota para ajudar a eleger… homens.
A mulher é comprovadamente muito mais prática e eficiente do que nós. Talvez, por verem tantas discussões inócuas e as leis serem aprovadas sem que realmente tenham efeito no dia a dia, elas considerem a atividade política pouco atraente. De fato, no jogo de poder entre os partidos e na briga rasteira por cargos, o espaço destinado às boas idéias – e intenções – costuma ter os contornos sombrios de um cemitério. As mulheres provavelmente estão certas em manter distância dessa infantil perda de energia, mas a má notícia é que, também por causa disso, a Política não muda. Não seria diferente se realmente entrassem nos governos e nos legislativos, escancarassem as portas e abrissem as janelas?
Como disse lá em cima, ainda não tem como saber se haverá eleições em outubro, dezembro ou no ano que vem. Mas esse é um bom momento para começar a observar as pessoas, sobretudo as que já se apresentam como pré-candidatas. Avaliar suas posturas e verificar se aquilo que defendem é o que efetivamente fazem é o primeiro passo para um voto consciente. Agora é um bom momento para as legendas trabalharem as opções femininas e lhes dar condições reais de disputar votos e não o papel coadjuvante que a maioria vem desempenhando historicamente. O patriarcado nos trouxe até aqui e o resultado não é bom. Não estaria na hora de avaliar outras opções?