Quando um jovem morre, independente do motivo, é natural que a sociedade fique chocada. Afinal, o ciclo natural da vida é quebrado e principalmente os pais não conseguem aceitar isso facilmente. Se essa morte é resultado de um suicídio, a comoção é ainda maior. É realmente difícil entender por que alguém, no auge da capacidade e do vigor, desiste de estar entre nós. Nos últimos cinco anos, a incidência entre jovens de 12 a 25 anos teve um salto de quase 40%. Nas outras faixas etárias, o índice caiu. No Brasil, o suicídio é a quarta maior causa de morte entre homens e mulheres de 15 a 29 anos.
Neste começo de ano, Montenegro registrou pelos menos quatro casos de rapazes e moças com menos de 25 anos que se foram por vontade própria. Está na hora de falarmos sobre isso de forma clara e responsável. Em conjunto, devemos procurar respostas ao incômodo “por quê?”.
Precisamos iniciar admitindo que não existe apenas uma causa. Avaliar o perfil das vítimas é um bom começo, mas existem condições comuns ao público jovem que podem estar na raiz do problema. Não há dúvidas de que as relações estão cada vez mais superficiais e impessoais. Todos têm amigos, mas a maior parte do tempo conversam com eles através de aplicativos e redes sociais. Poucos têm alguém para realmente bater um papo olho no olho, trocar segredos, confissões, chorar e pedir conselhos.
No Facebook e no Instagram, somos seguidos e “corremos atrás” de centenas de pessoas. Mas onde elas estão quando tudo que desejamos e precisamos é de um ombro, de um olhar cúmplice ou mesmo de uma chacoalhada ou “paratequieto”? Provavelmente vivendo as suas vidas perfeitas de comercial de margarina, curtindo os passeios, as viagens, as roupas novas. Comendo aquele prato mais lindo do que saboroso ou bebendo um chope gelado. Abraçados na gatinha ou festejando o aniversário de um colega num ambiente que transborda alegria. Todos são tão felizes… E eu?
Viver pode ser humilhante e doloroso se ninguém nos ensinou a valorizar o que temos, a estudar e a trabalhar para realizar sonhos, a entender que a tristeza é apenas a outra face da alegria. A pressão pela felicidade, a partir daquilo que idealizamos no outro, é uma mochila pesada demais nas costas de quem está iniciando a vida.
E tem mais. A necessidade de trabalhar vem tirando os adultos de casa mais cedo a cada dia. Com poucos meses, muitas vezes por falta de opção, os bebês são entregues aos cuidados de creches e escolinhas. O encontro com os pais ocorre somente à noite, quando estes ainda precisam dar conta das tarefas domésticas. Resta o sábado e o domingo para conviver, mas talvez não seja tempo suficiente para formar elos inquebráveis de confiança e amor. E se os pais seguem rumos diferentes por conta de um divórcio, a lacuna tende a aumentar.
Então a culpa pelo suicídio é das redes sociais? Seria irresponsabilidade dizer isso, mas a verdade é que muitos dos nossos meninos e meninas estão se sentindo inseguros e solitários e isso, com certeza, leva à depressão. É dever de cada família olhar para seus filhos e se perguntar se a qualidade das relações que têm com eles é adequada ao seu crescimento saudável. Se as amizades deles não estão circunscritas à tela do smartphone… Será que alguém já disse para eles “eu te amo, pode contar comigo” hoje? Você mesmo já fez isso com os seus?