Pode não parecer, mas ainda é muito comum entre as famílias o uso da violência como “terapia” para educar os filhos. E não estamos falando de uma palmada leve diante de uma crise de birra ou da proibição de fazer um passeio porque um acordo não foi respeitado. Ao mesmo tempo em que alguns tutores são absolutamente permissivos e não sabem impor limites, outros lançam mão de varas e até de chicotes para se fazer “respeitar”.
Esta semana, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina manteve a condenação, por tortura, de um pai que ultrapassou todos os limites. De acordo com o processo, certa noite, ele e a esposa saíram de casa para irem a uma celebração religiosa e deixaram a filha, de 13 anos, sozinha. No caminho, o pai percebeu que havia esquecido a carteira e voltou, encontrando a adolescente na sala, junto com um colega da escola, assistindo televisão.
Como a jovem não tinha autorização para receber amigos nestas circunstâncias, o pai “perdeu a cabeça”. Enquanto o garoto fugia, a filha era violentamente agredida com um fio de luz, uma cinta e até um cabo de vassoura de metal. O “corretivo” provocou hematomas na região dos olhos, contusões com edemas nas orelhas, nas costas, nas nádegas, no abdômen e nos seios. Também restaram ferimentos nos braços, pernas e coxas, a tal ponto de a vítima procurar, sozinha, por atendimento médico.
O caso chegou ao Conselho Tutelar e ao Ministério Público, que requereu a condenação do pai, pedido acatado pela Justiça. Ele foi sentenciado a dois anos e quatro meses de prisão em regime inicialmente aberto. Em sua defesa, o agressor admitiu que havia “exagerado”, mas ressaltou que seu objetivo foi apenas “educar” a filha. Curioso é que, depois da surra, ele saiu novamente, deixando a menina machucada, para voltar ao culto.
Quem acha que educar é fácil está enganado. Ensinar aos filhos o que é certo e o que é errado requer bons exemplos e muito mais diálogo do que gritos. A maioria dos que está na faixa dos 40 anos de idade certamente experimentou a dor de uma chinelada pedagógica na infância e provavelmente, ao olhar para trás, há de concordar que mereceu. Mas os pais, salvo exceções, sabiam que havia limites.
Sou de uma época em que a reverência aos mais velhos era uma regra inquestionável. Eles se faziam respeitar e não era pela força, mas pelo exemplo. Éramos ensinados, desde cedo, que suas vivências lhes davam condições de apontar o que era melhor. Convencê-los do contrário exigia bons argumentos e teimar não era uma opção. Aliás, toda criança quer limites. Elas vão testando os pais diariamente e muitos, com medo de frustrá-las, cedem bem mais do que deveriam. Depois, é difícil voltar atrás.
Voltando ao caso de Santa Catarina, este homem que espancou covardemente uma menina de 13 anos não merece ser chamado de “pai”. Não passa de um desequilibrado, uma verdadeira ameaça que deve ser contida pelo Estado. Que passe um tempo na cadeia, refletindo sobre o que fez. Quem sabe, lendo a Bíblia, vai se deparar com um ensinamento milenar, expresso em Tiago 1:19 – “Todo homem tem de ser rápido no ouvir, vagaroso no falar, vagaroso no furor”. Em tudo, mas principalmente na relação com os filhos.