O relicário, do latim relicarium, é um objeto originalmente destinado a guardar os restos ou relíquias de um santo.Igualmente presta-se a guardar e proteger coisas de valor inestimável.
Enquanto imagem, auxilia a pensar sobre o lugar no qual depositamos o que é sagrado.Caso tivesse a oportunidade, o que você guardaria em um relicário?E não precisa ser tão literal assim. Vale um sentimento, uma pessoa muito amada. O que você tem de mais sagrado?
Em meio a tantas tragédias que se espalham pelo país (a barragem de Brumadinho, as inundações em São Paulo, os atiradores de Suzano – que ceifaram uma dezena de vidas esta semana; e outro, bem mais próximo: os suicídios em Montenegro) é impossível não nos questionarmos: O que está acontecendo?
O cantor e compositor Nando Reis, em sua canção, também chamada “Relicário”, traz o mesmo questionamento. Ele pergunta: “O que está acontecendo?” Fatos tão diferentes, mas que chocam por levarem ao mesmo desfecho: a morte.
De menor espaço midiático, mas não inaudível, está o suicídio. Um drama individual e social que traz danos arrasadores e que segue sendo tabu.Temos alguma resposta plausível para oferecer? Volto à letra da canção queressoa: “O que você está fazendo?Por que, que está fazendo assim?”
James Hillman,em um livro da década de 60, alertava que abordar os temas da morte e do suicídio significariam violar tabus. Mais de meio séculose passou e parece que, ao poucos, começamos a nos dar conta disto. Hillman também lembrava que “nada ou muito pouco é possível se afirmar sobre a alma humana” e que devido à sua complexidade, qualquer afirmativa se torna inadequada.
Então, quando vemos pessoas cometendo suicídio, automaticamente, tentamos enquadrá-las em algum sintoma ou atribuir-lhes um “problema mental”. Afinal,com o quelidamos? Doença? Fraqueza? Algo relativo ao pessoal ou uma resposta ao social? Egoísmo? Romantização da morte? Falta de amor? Falta de disciplina? “Frutos” de uma sociedade doente, desvirtuada, consumista, que “vende” sonhos inatingíveis?
Ainda temos muito a falar e fazer em relação à morte por suicídio. Por hoje, deixo estas outras questões (ainda sem resposta) propostas por Nando Reis: “O que está acontecendo? / O mundo está ao contrário e ninguém reparou / O que está acontecendo?” / “O que você está fazendo? /Milhões de vasos, nenhuma flor” / “Porque está amanhecendo?”
O que de mais sagrado podemos depositar em nosso relicário(ainda é) aquilo que nos permitimos viver…
Paz e bem!