Fico maravilhado com a sutileza com a qual a vida nos oferece “respostas”.
No entanto, na mesma medida, impressionado em perceber a quantidade de vezes que estes importantes “momentos”passam despercebidos.
Há quem possa argumentar que as coisas realmente importantes sempre serão notadas. Mas, convenhamos: fatos, momentos e oportunidades extraordinárias também passam pelas entrelinhas da vida. A todo instante!
Porém, chega a ser espantosa nossa tendência natural ao “descuido”. Penso no quanto somos despreparados para perceber o que não é da ordem do direto, do escancarado, do óbvio, do pronto.
A experiência clínica e os estudos em psicologia confirmam estas questões.
O consultório psicológico é um ambiente propício para se observar estes fenômenos. Aqui, não é incomum conviver com a dúvida, a aflição e as incertezas. Estas, invariavelmente, produzem inúmeras perguntas. Chega-se, então, em um dos momentos mais angustiantes: onde estarão as respostas?
Contudo, custamos a perceber que a angústia não se dá exatamente pela falta de respostas. Ela é produzida, muito mais, pela rigidez com a qual o Ego se esforça para preservar o comportamento limitador (limitado pela forma da vida), mas com o qual estamos acostumamos.
Na semana passada ela chegou mais “carregada” à consulta. Carregada pelo peso de uma vida que, em busca de respostas, passou a não ser vivida. Não entendia o motivo de não ter “leveza”. Fazia de tudo, mas não conseguia seu “minuto de paz”.
Ao final da sessão, ela se levanta, vira para trás e questiona:
– Peguei tudo?
Sem que eu tivesse tempo de qualquer observação, ela revisa os bolsos, revira dentro da bolsa e argumenta:
– Estou com a sensação de estar deixando algo.
Não interfiro. Ela vai até a porta já aberta, novamente olha para trás e diz:
– Que estranho, pareço estar mais leve. Que sensação é esta?
Sempre “fica algo para trás” quando nos libertamos de um compromisso cego com nossa forma de viver. Toda consciência traz liberdade. Frequentemente, materializada neste sentimento de “algo estar ficando para trás”. Nada é mais reconfortante do que a leveza de não carregar o desnecessário.
A resposta que muito buscamos não está na quantidade de novas perguntas que precisamos fazer. Está na sutileza das sensações que não conseguimos traduzir.
Na sala de espera, tocava a canção:
“The answer, myfriend, isblowin’ in the Wind/ The answerisblowin’ in theWind.”
[A resposta, minha amiga, está soprando ao vento/A resposta está soprando ao vento.
Paz e bem!