Ipê Amarelo

A natureza tem lá suas formas de se mostrar, de manifestar as coisas, de ensinar.
Uma delas, em especial, é através dos ipês. Dizem os entendidos no assunto que primeiro florescem os roxos. Depois, na sequência, os de cor rosa, os amarelos e os brancos. Realmente, nunca prestei atenção nesta “ordem”. Certamente, daria para “escrever um livro”.
Há um interessante jogo de transição. A “morte” do inverno lhes exige um luto (o roxo). O rosa lembra o amor de Afrodite, necessário para reascender a paixão. O amarelo traz com ele a consciência. A pureza, a leveza e a paz, que anunciam um novo ciclo, são apontadas pelo branco. No entanto, entre estes, sempre achei mais interessante o amarelo.
Não tanto pela sua beleza, mas sim pela fragilidade das suas flores. A rapidez com que florescem e caem. Basta uma intempérie.
Esta fragilidade, muitas vezes, me fez refletir sobre a vida. Do quanto é rápida. Tão frágil quanto a flor, frente à primeira chuva. Uma ventania e todas se vão ao chão. Muitas sem sequer terem saído da condição de botões.
A natureza lembra que a brevidade da vida passa por um acidente indesejado, pela doença inesperada, pela mudança repentina de cidade, a demissão, a falência, a morte…
Na semana passada, a convite do curso de Psicologia, estive na UNISC de Montenegro conversando sobre o “Setembro Amarelo”. Como tema: “Suicídio e Alma”. E como não reconhecer na pequena flor estas vidas que se vão antecipadamente?
A reflexão também contemplava o tema “Alma”. Esta que nos anima, não no sentido religioso, mas no significado sagrado dos movimentos da vida.
Após a explanação, dialogamos sobre a incompreensão do suicídio. Ele seria o centro do nosso temor ou tememos a morte? Lembramos da nossa inabilidade frente a ela, da necessidade em querer compreendê-la. Mas para quê? O que buscamos remediar? Ao tabular dados estatísticos sobre o suicídio, conseguiremos modificar a vida?
Ainda acredito que o grande poder da morte seja dar uma mensagem muito direta sobre a vida: ela é curta e “logo” vai acabar. Tal qual a intensa e efêmera flor do ipê amarelo. Então, precisa ser valorizada durante este “piscar de olhos” da existência.
Este ano, possivelmente em função da ausência de chuvas e temporais, noto que elas tiveram “um fôlego a mais”. Mesmo que já estejam caindo, é possível perceber que o fazem com a necessária naturalidade.
Quem dera termos a sensibilidade de olhar mais para a natureza; e com ela aprender um pouco mais sobre nossa própria existência.
Paz e bem!

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