Uma amigacontou-me que sua árvore de Natal estava surrada pelo tempo. Mais de 15 anos de uso deram a ela um aspecto “esfarrapado”. Aos poucos, foi perdendo cor e sentido. Chegou a pensar em desistir dela.
Imediatamente,lembrei do que dizia o “velho” Jung, em “O homem e seus símbolos”, sobre um símbolo ser uma imagem que vai além do seu significado evidente e convencional. A árvore, sem dúvida, é um símbolo. E todo símbolo ativa um fenômeno mental. Para cada pessoa, suaárvore de Natal conta sua própria história.
A árvore de Natal mais antiga da minha memória é um pinheiro alemão. Quase mais largo do que alto, incrivelmente carregado de vida. Não tinha “pisca-pisca”, mas tinha luz: velas coloridas. Sim, as pessoas decoravam pinheiros com velas!Eram acesas na noite de Natal e multiplicavam seu reflexo nas incontáveisbolinhas artesanais de vidro. Minha preferida tinha formato de beija-flor. Fixada por um grampo e uma mola, passava dia e noite a se embalar.
Com o passar do tempo, aquela árvore refletiu o espirito à sua volta. Aos poucos, as bolinhas foram quebrando, as velas sumiram, a árvore diminuiu.Certo ano, um dia antes do natal, uma pequena muda de araucária,plantada em uma lata, e algumas bolinhas de papel Celofane, foram as responsáveis por manter vivo aquele símbolo. Até chegar o ano em que ela não estava mais lá.
Um símbolo carrega vida e alimenta a alma. A alma ressignifica o símbolo.
Assim foi com minha amiga. Sua velha árvore ganhou vida. Um símbolo do “Eu” e da própria natureza. Do outono que leva as velhas folhas, mas que prepara para o inverno, no qual, no interior do seu recolhimento,guarda e prepara a vida para a nova primavera.
Daí chegamos ao rito. É ele que tem o poder de “ativar” a força do símbolo. Aí já não importa o tamanho e o formato da árvore, se natural ou artificial, quão colorida é sua decoração. O que importa é seu potencial de mover. Abandonar um símbolo é abandonar a própria alma (vontade, desejo, alegria).Quando deixamos de acreditar, corremos o risco de não reconhecer o que tanto buscamos, muitas vezes, por uma vida inteira.
Dia destes, na minha casa, veio à tona o assunto(símbolo)“Papai Noel”. Quandocada um deixou de acreditar e como foi esta experiência. Ao final dos relatos, olham para mim e perguntam: “E tu, quando foi que deixou de acreditar?” Por um segundo, recorri às melhores lembranças da minha alma,deixei escapar um sorriso e respondi:
– Mas quem foi que disse que eu deixei de acreditar?
Paz e Bem!