Passada pelo passado

Nem todo filme ruim é totalmente inútil. Lembro de um que mostrava um professor de História no primeiro dia de aula. Pra quebrar o gelo, ele se apresenta para a turma, põe um livro no chão e chama um aluno qualquer até a frente, explicando: – Isso que está no chão (o livro) é uma bomba. Pise nela! O aluno, sem entender muito, pisa. – Bum! Você está morto; pode se sentar – sentencia o professor. O mesmo faz com um segundo aluno; e uma terceira; até que o quarto aluno se nega a obedecer: – Não vou pisar! O professor pergunta: – Por quê? Ao que recebe a resposta: – Porque é uma bomba.
Então o professor explica aos alunos que a função da História é ensinar os erros do passado, para que os mesmos não sejam repetidos no futuro. Talvez a função da História vá além da simples análises de falhas que ocorreram em outras épocas. Entender o contexto em que as pessoas viviam tempos atrás e por que os fatos históricos ocorreram daquela forma, e não de outras formas diferentes, sem julgamentos sobre se foi ou não errado, também deve ser contemplado por quem dedica a vida ao estudo do passado. Mas como disse, o filme era ruim. Mesmo assim, ele apresenta a História como uma fonte de informações úteis para ajudar nas decisões do presente e, com isso, construir um futuro melhor.
Justamente por faltar ao brasileiro essa clareza da importância da História, que vimos na internet, durante a cobertura do incêndio no Museu Nacional, em setembro desse ano, vários comentários questionando o propósito de haver um local assim. Muitos alegavam que o que falta ao país é investir dinheiro no futuro, e não no passado. Aposto que nenhum deles é frequentador desses espaços. Entretanto, será que nós, do Vale do Caí, estamos mais evoluídos nesse quesito do que a média nacional?
Vou citar um exemplo: o Memorial ao Imigrante Alemão, em Montenegro. Numa região com forte presença de descendente desses imigrantes, um espaço com essa proposta pode até parecer que é chover no molhado; mas, se pensarmos bem, cuidar da história desses pioneiros vai além de nos lembrarmos dos causos contados pelos avós, ou usar como decoração aquele ferro de passar roupa com brasas da bisa. Lembranças são perdidas quando a memória falha, documentos são sensíveis, fotos em preto e branco desbotam-se, objetos estragam ou enferrujam e viram sucata. Alguém precisa se dedicar para que o passado não seja atropelado pelo presente, correndo rumo ao futuro. Esse é o objetivo dos museus.
O Memorial ao Imigrante Alemão estará em reforma a partir do mês que vem. Ainda pode ser visitado até o dia 21, quando haverá um evento de encerramento das atividades até aqui realizadas. Quem quiser conhecer mais sobre esse trabalho, entre em contato com o Eduardo Kauer e dê uma passada pelo passado. Todos só temos a ganhar.

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