Democracia militar

Nem tudo que é bom, o é em qualquer contexto. Se bem que “bom” e “mau” são julgamentos particulares orientados por crenças próprias. Como exemplo, cito a discussão em torno de vários aspectos do universo militar. Desde aqueles que criticam a militarização da polícia, até os que defendem o ensino de rituais e valores típicos dos quartéis às crianças, como política pública. Em ambos os casos, existe o desejo de igualar o modo de vida dos civis ao dos soldados, ou vice-versa. Assim como seria errado esperar que o cidadão obedeça sem questionar, tudo que venha daqueles no mais alto escalão do governo, pois não estaria de acordo com os princípios democráticos que levaram essas mesmas pessoas ao poder; do mesmo modo, supor que a democracia teria espaço no campo de batalha seria, no mínimo, falta de imaginação. Pensem num grupo de soldados, em guerra, dentro de uma trincheira, cercados pelo inimigo, tiro pra todo lado e com seu comandante morto.
– Estamos sem um líder. Devemos fazer uma eleição. Quem quer concorrer?
Dos sete soldados, três acenam positivamente.
– Cada um terá direito a uma promessa de campanha.
Todos prometeram o mesmo; que tirariam os companheiros daquela trincheira vivos.
– Vamos votar. Quem vota no candidato Soldado Silva, levanta a mão.
Um dos eleitores do Silva, que deveria ser jogador de basquete, ao erguer a mão, leva um tiro que decepa o mindinho.
– Esse voto deve ser anulado! – protestam os outros candidatos.
– Chega! Vamos fazer votação secreta. Usem algum papel como cédula.
– Não tenho papel. – disse o Soldado Santarém
– Use a carteira de cigarros.
– Não fumo.
– Se você votar em mim, te dou um pedaço.
– Isso é compra de voto – protestam os outros dois.
– Então eu não votarei, vou me abster.
-Vamos à apuração. Soldado Silva 3 votos. Soldado Santos 2 votos. Soldado Silveira 1 voto.
– Eu nem queria mesmo – disse Silveira
– Tô eleito, e minhas ordens são…
– Calma aí, Silva – disse o Santos. Você não fez mais de 50% dos votos válidos. Vamos para o segundo turno.
– Mesmo se o Silveira votar em você, ainda estaríamos empatados.
– Agora vou emprestar um papel pro Santarém, sem cobrar voto. – disse o Sd. Silveira.
– Vamos juntar nossas chapas Silveira. Seremos o Comando SS! – sugeriu o Sd. Santos.
Na votação para o segundo turno, o Comando SS venceu por 5×2, mostrando que sempre tem aquele disposto a mudar de lado, de acordo com o arranjo. Quando o recém eleito comandante Santos, ao lado do vice, ia dar sua primeira ordem, uma granada caiu aos seus pés.

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