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A modernidade está deixando tudo menor, inclusive a paciência. De bobeira numa loja, na sessão dos eletrodomésticos, encontrei um exemplo do encolhimento causado pela tecnologia. Com o pitoresco nome de “eletrinhos”, uma das prateleiras exibia aparelhos para a cozinha, que daqui a pouco vão caber no bolso. Não pelo preço, mas pelo tamanho. Tem um que faz café, outro faz o pão, só faltou o que faz a schimia colonial, mas aí é querer demais. Dentre aquelas coisas, uma chamou a atenção. Uma máquina de waffle. Traduzindo livremente para o alemão arcaico das colônias daqui, uma máquina de “vaflers”. Minha avó, pra fazer isso, usava uma forma pesada, que ia numa das aberturas na chapa do fogão à lenha. Depois, minha mãe tinha uma mais leve, de se usar num bico do fogão a gás, e agora, estava interessado naquela coisinha que usa apenas energia elétrica. Comprei. E explicarei por que até a paciência vem diminuindo.
Depois de pagar, a balconista apontou para o local de retirada do item. Lá, um rapaz recebe a nota e faz uma última conferência no produto antes de entregar ao cliente. Como quem fala com um velho amigo, ele pergunta, enquanto olha todos os lados do equipamento com cara de brinquedo: – Vai fazer uns waffle? Diante da pergunta simples, porém sem sentido e com a resposta mais óbvia possível, pensei em responder algo menos evidente, tipo: – Não, comprei para aquecer minhas meias no inverno. Recomendação médica. Mas me limitei a dizer o já esperado “sim”. Admito que talvez ele esteja apenas seguindo alguma orientação de como atender bem; esperando, quem sabe, agradar o cliente puxando assunto enquanto faz seu trabalho, e não deixar esses instantes com aquele silêncio, que pode ser considerado como desconsideração. Agora, se essa teoria estiver errada, e o costume de fazer comentários esdrúxulos é parte da personalidade de algumas pessoas, então pensem a quantidade de enrascadas que alguém assim pode ter no mercado de trabalho, talvez pondo em risco a própria carreira. Vejamos alguns exemplos:
Anotando o pedido no restaurante.
– Um guaraná light!? Tá de dieta? Hoje temos brócolis no buffet de saladas, o senhor viu? Não viu as saladas, ou não sobrou espaço? Pode pegar um segundo prato.
Na sala de espera (lotada) do consultório médico, após acertar os detalhes da consulta que está por acontecer.
– Que bom que houve essa desistência de última hora, assim conseguimos o encaixe pra hoje. Pode se sentar. Ou são novamente as hemorroidas incomodando?
No caixa do supermercado, após passar salsicha, pão, ketchup…
-Vai fazer cachorro-quente? Tá faltando a batatinha palha. Corre lá buscar enquanto eu faço uma cera aqui, brigando com o sistema.
No balcão da farmácia, atendendo a cliente encabulada que passou só pra comprar camisinha.
-Mazáh, hoje vai ter, hein?!
Que a modernidade não diminua o bom senso…

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