O amor é quando o copo cheio transborda. Se não extrapola as beiras, se não pulsa forte nas veias, não é amor. Amor é quando um nome sai dos lábios diferente de todos os outros. Amor é carga positiva, arrepio, sorriso que chega nos olhos e faz brilhar, pra cada um, um sol particular. Amor é quando nossos vazios são preenchidos pelos cheios dos outros.
Amor é detalhe, é brisa de verão, furacão e tempestade. O amor é como um lago; quanto mais calmo, mais profundo, mas também mais perigoso da gente afundar. Ele é aquela dor boa que faz a gente se sentir vivo, que aquece o coração e faz um milhão de borboletas voarem no estômago. É fim de tarde de sexta-feira, cheiro de café de manhã, gota de chuva no calor escaldante. É alívio, é perder-se e torcer pra nunca mais se encontrar.
Amar é como um beija-flor; parece natural flutuar e encanta com a sua leveza, mas existe um grande esforço e demanda muita energia para que o voo continue. Amar é quando, só de pensar em deixar de amar, já dói. É acordar de manhã e ficar olhando o outro dormir, pensar no outro sem querer e se alegrar instantaneamente. É querer o bem sem controle, cuidar pra não magoar, não ferir. É descobrir do que o outro gosta e precisa, não por obrigação, mas por simplesmente querer fazer parte das suas felicidades diárias.
Amar é querer contar como foi o dia, as novidades, os problemas; é dividir as conquistas e as derrotas. É falar das suas dores sem medo de ser julgado e condenado. Amar é construir, todos os dias, o amor. É não ter vergonha de demonstrar que ama e também é respeitar os defeitos e as individualidades do outro, mesmo que doa na gente. É sentir dor e, mesmo assim, não saber se é hora de partir, porque amar também nos cega e nos torna mais resistentes do que pensamos ser.
Amar pode ser difícil. Amar pode ser um suspiro ferido ou lágrimas amargas. Mas amar sempre há de ser, também, suspiros de alegria e lágrimas de felicidade. E é por isso que amamos tanto.
Amar é diferente de amor. Amor é substantivo, amar é verbo. A ação de amar é o que somos capazes de controlar. Ninguém controla o amor, ele é muito maior do que nós, do que a razão ou o orgulho. Mas amamos, e isso está em nossas mãos. Podemos amar, sempre, muito mais do que acreditamos ser capazes. Essa é a beleza: tudo depende do sujeito para a ação acontecer. E ela acontece, mesmo que sejamos falhos e cometamos erros: amamos.
Talvez um dia o amor acabe. A capacidade de amar, no entanto, não acaba nunca. Pra todos os corações e todas as mentes do mundo, amar é verbo que se conjuga em todas as pessoas e tempos verbais, de novo e de novo, em busca do substantivo que faça tudo valer a pena.
Ana Clara Stiehl
Cronista