A Oralidade sempre foi uma das mais fortes manifestações de cultura da comunidade negra. É a história falada que nos manteve, desde os tempos da escravidão e hoje nos aproxima da ancestralidade. Ser o guardião da história de um Clube Social Negro é uma das mais dignas funções de nossos Griôs, que, na tradição africana, são contadores de histórias, muito sábios e respeitados nas comunidades. Ter Griô em uma história centenária, como a da Sociedade Floresta, além de uma honra, me fez refletir sobre a importância de documentar o passado. Fez entendermos que divulgar a história preta de Montenegro, sobre a perspectiva dos protagonistas negros, é a forma de proteger o legado do nosso aquilombamento. E alguém vai questionar: Do que você está falando? Que história Preta é essa? Qual é a ligação com os 150 anos de Montenegro?Então… deixa eu te contar uma Preta! Há cerca de 107 anos atrás era validado o nascimento da Sociedade Floresta Montenegrina, datado de 28 de setembro de 1916. Temos indicativos de que antes havia, nas proximidades grupos abolicionistas, e os famosos blocos carnavalescos, mas devido ao cenário da época somente em 1916, foi possível a realização de um espaço físico que abrigava a população negra da região. Um espaço de pertencimento para“os morenos”, “a negradinha” e as“pessoas de cor”, expressões racistas que, mesmo em desuso, infelizmente, são comumente utilizadas para nos descrever. Um espaço de luta para a juventude negra.Um espaço de empoderamento para as mulheres negras. Barracão dos carnavais vitoriosos. Um lar para as lutas históricas como Educação Antirracista, para vitimas de racismo, para discussão de políticas públicas para a população negra. Um marco de resistência para o povo preto da região do vale do Caí. Nesta casa hoje chamada Associação Cultural Beneficente Floresta Montenegrina cresceram nomes de destaque local, que construíram Montenegro. Nossa história se entrelaça com a da cidade, e do bairro que em outro momento foi território negro. Fazer um documentário é a certeza de eternizamos a história, nossos feitos, nossas conquistas, demonstrando o orgulho que temos em ser negros, montenegrinos e gaúchos. Fazer um documentário não é somente captar imagens e sim colher a alma de pessoas que dedicaram sua vida à manutenção da História e Cultura Do Negro Montenegrino. Uma história que não foi contada em outros tempos, que não tem nos livros, que não é lembrada e que faremos questão de proteger. Que com este trabalho teremos a oportunidade de contar através do olhar de quem viveu, de quem tem papel de fala, e quem conhece a trajetória da comunidade negra. Com certeza não iremos viver para ver tudo, no entanto iniciamos a retomada de um espaço de protagonismo, de negritude e de dignidade para o povo preto. Nosso documentário terá a missão de transmitir ensinamentos como um fio condutor entre gerações, incluindo nos 150 de Montenegro o legado que o povo negro construiu por aqui. Somos Montenegro, somos Floresta e somos a história que passará a ser contada por quem tem papel de pauta. Sarava!