Representatividade importa sim, tudo que nóis tem é nóis*, vidas negras importam**. Você já deve ter ouvido muitas vezes essas frases. Se não ouviu, vai ouvir e vai dizer toda vez que falar de ações potentes e inspiradoras na luta pela promoção da igualdade racial. Hoje o nome da representatividade é Fabricia de Souza***, a filha da Nita e do João Bola, a neguinha, a Negona, a nossa vereadora. De todas as frases que li e ouvi neste momento, a mais bonita foi no facebook de um amigo em comum: “Eu cresci com ela”. Por que representatividade é poder ver os seus, nos livros, na televisão, entre profissionais qualificados e nas bancadas como modelo de sucesso. No entanto, ainda alguém vai me perguntar: Porque é tão importante uma vereadora negra? Pois bem… deixa eu te contar uma história. Mulheres negras não são só vítimas de violência, de assédio de objetificação do corpo, do sexismo, do machismo, e do preconceito racial.
Acredito que sejamos vítimas das maiores das agressões sociais existentes. Estamos sujeitos a invisibilidade, dificuldade de acesso, da falta de respeito sobre as nossas necessidades. Ser mulher na política por muito tempo foi visto como incompatível, já ser mulher negra na política é quase lutar contra o Morro São João. Uma mulher negra, periférica e religiosa assumir a bancada da câmara de vereadores é a certeza de que o jogo está virando. Que nossas guerras, nossas lutas terão uma voz.
Quando se fala em luta, é necessário situar que as mulheres negras precisam lutar para sobreviver. que as casas chefiadas por mulheres negras com certa frequência estão abaixo da linha da pobreza. Que mesmo quando mulheres brancas tiveram seus direitos reconhecidos, mulheres negras não tiveram acesso igualitário.
O feminismo negro surgiu por volta de 1960 e 1980, especialmente pelo marco da criação da National Black Feminist Organization****, nos Estados Unidos. No Brasil, o movimento ganhou força no final dos anos 1970, tendo-se entendido que as demandas das mulheres negras não eram contempladas pelo avanço social, e desde então lutamos arduamente por maior poder de fala. Não precisamos ser representadas, queremos falar por nós mesmas. Os partidos e o próprio eleitorado, até muito pouco tempo, associavam êxito na política a homens, brancos, casados, heterossexuais, e de boa posição econômica e social.Um grupo de especificações que não nos inclui. Para que haja mudanças, tanto os partidos como o eleitorado precisam rever suas escolhas.
Para que outras mulheres negras consigam vencer essas barreiras, necessitamos de apoio psicológico, apoio financeiro, apoio político dos partidos, apoio da comunidade e espaço para que nossas demandas sejam ouvidas. Estamos falando de mudanças nas estruturas historicamente racistas e sexistas. Mas ainda fica a dúvida: Onde fica Fabricia de Souza neste contexto?
Nossa menina entra de no rol de MULHERES NEGRAS VEREADORAS DO BRASIL, junto com Mariele Franco (RJ), Karen Santos (POA), Daiane Santos (POA) e outras mulheres negras corajosas que incentivam o crescimento da consciência política de nossa gente. Ubuntu!
*Música Amarelo autor Emicida.
**Movimento Black lives matter 2013.
*** Primeira vereadora negra em 149 anos da cidade de Montenegro-RS
****National Black Feminist Organization, grupo ativista dos EUA