Nos últimos tempos tenho sido muito questionada o porquê de manter cotas para negros, fomentar politicas de reparação histórica e promover black Money. Vou me ater aos exemplos na área profissional, porque é um dos universos que tenho visto uma movimentação interessante em Montenegro e acredito que possa se estender às empresas da região do Vale do Caí. Ao ver vagas de trabalho, nos debates sobre geração de renda, e empreendedorismo, questiono se há nestas empresas políticas de promoção da igualdade racial ou programas de incentivo e acesso para os povos negros. Tenho recebido as seguinte respostas:.- Tenho amigos negros! Ou – Eu trabalho com negros! OU – Todos são bem-vindos. Respostas como estas refletem a falta de questionamentos sobre estruturas sociais e posicionamento estratégico.
Então… deixa eu te contar uma história.
Ao observarmos carreiras profissionais relativamente parecidas, temos nos deparado com um abismo salarial e com a baixa colocação de jovens negros. Nas mesmas condições de outros profissionais, pessoas negras têm dificuldade de ascensão nas carreiras e maiores índices de adoecimento. Por muito tempo acreditei que o crescimento profissional era uma questão de meritocracia, mas ao analisarmos os fatos, entendemos que ela não se aplica sempre. Não estamos falando meramente em contratar pessoas negras, estamos falando em programas de diversidade e inclusão que vão desde a contratação, como a condução da equipe para potencializar o trabalho de todos envolvidos. No livro da Barack Obama¹, ele faz um relato comovente da reunião que fez com mulheres, negros e latinos na Casa Branca. As falas descritas não somente me representam, mas falam da dor de ser negro em ambientes corporativos, independente da função, que em geral são descritas ou direcionadas para homens brancos e cis². Para que esta mudança realmente seja coerente, precisamos aumentar a contratação de profissionais negros e indígenas nos cargos de liderança. Assim, com espaço de fala, poderão desenvolver genuinamente a pauta de diversidade, gerenciando o seu impacto na empresa e na sociedade.
Outra ação pertinente é a representatividade nos processos e ações de desenvolvimento interno, com profissionais da mesma raça e cor. Ou seja, é ́ importante ver caras pretas, negras, como representantes das empresas, tanto nos processos seletivos, como contando “cases” de sucesso. Seria interessante que as empresas e organizações empresariais da região do Vale do Caí, proporcionassem ambientes que promovam a inclusão, retenção e crescimento dos jovens talentos negros.
Todos podem ser bem-vindos mas mapear e escutar os profissionais negros no mercado é essencial para descobrir como as empresas podem de fato contribuir com a pauta antirracista. Ver os profissionais negros culturalmente amparados gera pertencimento e times mais fortes. Asè!
1-OBAMA B. Uma Terra Prometida.Cia das Letras 2020
2- Cisgênero é o indivíduo que se identifica com o sexo biológico com o qual nasceu.