28 de setembro de 1916, é um marco na luta negra em Montenegro, ou seja, aniversário da ACB Floresta Montenegrina. O que temos de mais importante em um povo não são riquezas e sim a sua legítima história, contada por seus reais protagonistas. Na comunidade afrodescendente, os territórios negros são as manifestações mais antigas de ancestralidade. Temos os quilombos, os terreiros e os clubes sociais que fazem permanecer viva a missão de proteger, agregar e aquilombar. Nascida da necessidade de ter um espaço seguro, promover o empoderamento preto, receber os movimentos negros organizados, a Associação Cultural Beneficente Floresta Montenegrina marca presença negra na região do vale do Caí. E mesmo com toda a contribuição social, o povo quer saber:“Porque manter os territórios negros é tão necessário?” Então… deixa eu te contar uma história: O RS historicamente nega a presença e contribuição da população negra, como formador do povo gaúcho. Para quem não sabe, houve uma época em que negros eram proibidos de entrar em determinados espaços e privados do convívio social com os imigrantes da cidade.
Estamos falando de um tempo em que nas Sociedades locais, espaço de convivência e divertimento, os negros não eram autorizados a trabalhar, muito menos degustar da atmosfera festiva. No momento em que surgem os territórios pretos, as religiões de matriz africana, tiveram papel imprescindível na resistência, formação da identidade e preservação da memória. Outro fator que contribuiu foram as manifestações carnavalescas, que, segundo os jornais locais da época, datam por volta de 1906. Segundo fatos históricos, a política de branqueamento do Brasil, impediam ou obstruíram as organizações sociais negras de fazerem raízes. Na visita realizada ao clube social negro mais antigo do estado, surgem os argumentos que os afromontenegrinos precisavam. Seguindo o modelo de outros clubes sociais negros, tivemos direito à cidadania, à cultura, ao lazer e ao afeto dos nossos.
Direitos básicos foram fomentados, estereótipos foram quebrados e a juventude incentivada a se organizar. Em 106 anos de história, nossa Associação construiu um patrimônio cultural imaterial. Passamos por diversas mudanças de concepção, promovemos bailes, carnavais, seminários, coletivos jovens, projetos sociais, agregamos forças com outros movimentos a fim de realizar impacto social.
Atualmente, acompanhando a necessidade de seu tempo, acolhemos os jovens coletivos locais na busca por espaço para a concepção de projetos. Incentivamos os meios de comunicação locais na produção de conteúdo de pauta preta. Apoiamos o debate da administração pública em incluir, discutir e redefinir prioridades da pauta negra. Desenvolvemos estratégias para apoiar o empreendedorismo negro e ampliar acesso ao empoderamento econômico. Retomamos práticas de educação antirracista, fomentando a educação com equidade, para que as crianças negras sejam acolhidas em suas necessidades. Nossos mandumes, ao defender esse espaço, provavelmente não tinham ideia clara do seu alcance e longevidade, mas acreditaram em um futuro melhor para suas famílias.
Como já relatei em diversos espaços, sou de uma família de presidentes, apaixonados pela Sociedade Floresta ou melhor, pela Associação Cultural Beneficente Floresta Montenegrina, mas não posso esquecer todos os homens e mulheres que dedicaram sua vida à luta contra o preconceito racial, na preservação deste lugar de memória, resistência, patrimônio e potencial. Que outras Otilias, Domingos, Erotildes, Ataides, Arares, Robertos, Dejalmos, Madalenas, Xandicos, Cloris, Marias, Valderezas, Letícias, entre tantos outros, sigam acreditando na força de fazer parte de um Clube Social Negro.
No dia 28 de setembro, de qualquer tempo e onde eu estiver, vou lembrar desta gigante com um amor imenso. Asè