Mais uma tragédia anunciada e infelizmente corriqueira no nosso país. Mais um homem negro morto de forma cruel, por motivo fútil, que envergonha a sociedade em que vivemos. Você já se perguntou por que frequentemente homens e mulheres negras morrem de maneira violenta?Normalmente são protagonistas de cenas chocantes, demonstrando que não há só falta de privilégios, mas a certeza da impunidade reina na situação.
Na coluna anterior citamos a exposição excessiva a cenas de crueldade com a comunidade negra como um fator de predisposição a patologias que agravam a saúde mental da população negra. Pois bem, a morte de Moïsé*, congrega com este fenômeno que assombra a população negra e sua descendência, uma vez que estamos falando em racismo diretivo à diáspora africana**.
Este episódio retrata um crime com cunho xenofóbico, que é o ódio por estrangeiros, demonstra a naturalização de ações, atitudes e situações que promovem, direta ou indiretamente, a segregação ou o preconceito racial. Ações violentas como esta, são em geral direcionadas às minorias sociais, às mulheres, pessoas LGBTQIA+ e minorias étnicas. A violência física e moral contra a comunidade negra reflete em outros dados como baixa escolaridade e menor expectativa de vida.
E a pergunta do dia é: De onde vem e o que mantém esse “aparthaid social”? Essa herança é fruto de um país que relegou a população negra às piores condições de vida, absurdos do ponto de vista de discriminação, que mesmo nos dias atuais, causam impacto quando a gente fala dos indicadores de sucesso. Apenas recentemente o poder público e empresas privadas começaram a pensar e fomentar medidas de controle destas práticas de racismo estrutural. Mesmo com a pressão dos movimentos negros organizados, manifestações da comunidade negra em busca de condutas anti-discrimintórias, faz parte do processo a lentidão e a falta de vontade política na implementação destes projetos.
Apesar do movimento intenso de refugiados no país, vemos poucas possibilidades de inserção em empregos formais, de manutenção de necessidades mínimas, com foco na superação da desigualdade racial. Os movimentos negros organizados têm discutido intensamente índices de violência contra os afro-brasileiros e contra pessoas da diáspora africana em geral. Sensibilizando para o impacto do racismo, condutas violentas da sociedade civil, e restrição da cidadania das pessoas negras.
Temos que comprometer a sociedade como um todo, desde a mais tenra infância até a velhice, com conhecimentos antirracistas, formação em direitos humanos, ações efetivas em todos os setores visando dar conta de necessidades especificas, promovendo campanhas antirracistas e anti xenofóbicas. Que sejam adotadas medidas mais severas e ágeis no combate e punição em casos como o de Moïse e de tantos outros que passaram por agressões, humilhações e assassinatos. Que outras mães negras, como eu, não chorem a morte de seus, em meio a brutalidade dos fatos.
* O crime aconteceu em 24 de janeiro. Moïse, que vivia no Brasil desde 2011 na condição de refugiado, foi ao quiosque Tropicália, localizado na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, e acabou sendo espancado até a morte no local. O corpo dele foi encontrado amarrado no local do crime.
**O termo diáspora tem a ver com dispersão e refere-se ao deslocamento, forçado ou não, de um povo pelo mundo.