Sobre ser uma empreendedora negra

Ser reconhecida na sua cidade e espaço é uma tarefa difícil quando somos minoria, quando não há o devido entendimento de reconhecimento real de nossa participação e quando ainda se luta contra a invisibilidade. Voltamos aqui não para defender só a nossa causa, mas penso em todas as contribuições de mulheres indígenas, refugiadas, população LGBTQIA+ e de outras minorias sociais e étnicas que não são lembradas com frequência.

É importante retomar para que fique claro: Não queremos ser representadas, queremos falar sobre nós mesmas, contar nossas histórias de vida e pensar em ações que de fato privilegiam nossas necessidades. Hoje eu venho contar a história da participação das mulheres negras no empreendedorismo local, sempre lembrando que tantos outros grupos que mesmo contribuindo, não são integrados às ações locais, para exercer sua representatividade. A história do empreendedorismo, de raiz afrocentrada, está ligada à necessidade de sobreviver e de se reinventar.

O coletivo de empreendedoras negras de Montenegro nasceu da vontade de termos um espaço que nos sentimos pertencentes, recebessem apoio para novas iniciativas e pudessem fortalecer nosso lugar de fala, dando visibilidade às mulheres que tiveram apagadas suas contribuições.

Mesmo sendo todas mulheres, sabemos que as minorias sociais têm necessidades e prioridades diferentes. Que precisam ser ouvidas pelas autoridades e incluídas em projetos e programas da cidade, de forma sistemática, no intuito de representar com qualidade e seriedade todos os segmentos.

Não estamos falando somente de uma questão de etnia, mas de orientação sexual, de comunidades periféricas, de orientação religiosa, de nacionalidade e poder aquisitivo. Desigualdades socioespaciais, raciais e de gênero estão diretamente relacionadas, logo, é inviável falar em mulheres sem levá-las em consideração.

Mas ainda alguém vai se questionar: Você acha que nas ações locais nem todas as mulheres são incluídas? Se todas as mulheres tivessem um espaço honesto, provavelmente teríamos outras pautas sendo discutidas, haveria um revezamento de pessoas, de homenagens e nossa sociedade seria mais humana.

Tendência que as grandes instituições têm direcionado o seu olhar e incentivado mudanças. Talvez esteja na hora de privilegiar o consumo, de empresas cidadãs. Asé.

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