A Sociedade Floresta Montenegrina nasceu em 1916, para oferecer entretenimento e acolher a comunidade negra. Na região havia outros espaços sociais, mas as pessoas negras eram proibidas de usufruírem das dependências ou mesmo entrarem para trabalharem. A Sociedade Floresta Aurora, de Porto Alegre, nossa inspiração, tinha a nobre missão de enterrar seus mortos, de maneira digna. Cada região do Brasil se difere muito, no entanto todas tem o clube social negro como quilombos urbanos, exercendo os primeiros movimentos de quebra de hegemonia e empoderamento da história e cultura negra. Mas sabemos que alguns vão questionar: E hoje? Qual é a função do clube social negro? Porque ainda é necessário 100 ou 150 anos depois, a manutenção e permanência deste espaço? Então… deixa eu te contar uma história! A responsabilidade dos espaços pretos é proteger e desenvolver toda potência negra que for necessário. Seguimos como defensor de políticas públicas de reparação de história que até os dias atuais estão em processo. Somos espaços de luta, resistência e ancestralidade negra. Focamos no futuro da juventude negra, das pautas antirracistas na educação e protegemos os territórios negros em que nossos antepassados viveram momentos felizes, investiram tempo e dinheiro, e criaram suas famílias.
Estamos diante de uma conexão entre saberes ancestrais e atualidades. Somos na prática, o 20 de novembro o ano inteiro, somos quem a comunidade recorre quando precisa de suporte, orientação, indicação ou curadoria. Somos quem zela a história, e projeta o futuro. Nossa conexão com as religiões de matriz africana, com a história e cultura afro-brasileira, com a saúde da população negra, com a educação sankofa, com a ideologia Ubuntu é diária. Nossa relação com o Slam, com os autores pretos, com o feminismo negro e com black money faz parte do nosso fazer constante. Somos a materialização de uma sociedade com que deveria ter mais diversidade, mais respeito à beleza negra e mais dignidade aos corpos pretos. É diferente do que muitos pensam, não estamos fechados para a branquitude, mas é o lugar que somente serão bem vindos aqueles que respeitam o nosso protagonismo e o nosso espaço de fala. Crescemos em número e potência no estado porque precisamos de reforço na luta. Modernizamos nossas ações porque elencamos novas necessidades e entendemos que nosso povo precisa de muito mais. Mas nunca perderemos nossa essência, porque a música, a alegria, a cultura viva, característica da pretitude é DNA. Nossa ancestralidade, nossa herança cultural é o que nos constitui como povo preto. E como diz Conceição Evaristo: “O importante não é ser o primeiro, o importante é abrir caminhos”. Seguiremos abrindo os caminhos e fazendo o 20 de novembro todos os dias. Iboru!