25 de julho é o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, data criada em 1992 para dar visibilidade à luta das mulheres negras. No Brasil esta data homenageia à líder quilombola Tereza de Benguela, que, com a morte de seu marido, assumiu o Quilombo de Quariterê, em Mato Grosso, que acolheu negros e índios fugidos, organizou um sistema de governo parlamentar, incentivou o comércio local e lutou contra a escravidão. No Rio Grande do Sul, temos diversos grupos organizados e os clubes sociais negros tem pautado sua história sob a tutela das mulheres negras. As famílias negras, através dos tempos, tem se consolidado no formato matriarcal e geralmente solo. No entanto, é importante salientar que a luta das mulheres ainda é por equidade. Ou seja, equiparação de direitos, acesso às mesmas oportunidades, proteção e ao afeto. E alguém vai me questionar: Do que você está falando? Então… deixa eu te contar uma história. Sou uma mulher negra de quase 45 anos, nascida e criada em Montenegro e me aventurei ao mundo em busca de oportunidades. Fui criada para ser forte e imbatível, porque caso contrário não teria o meu espaço. Uma história muito parecida com diversas outras meninas, só que eu era a menina negra.
Isto já nos coloca em lugar de desvantagem, devido a necessidade de posicionamento constante, de falta de representatividade, de desrespeito ao corpo, ao cabelo e outras tantas coisas simples que foram me negando. Sou do tempo que não tinha maquiagem para a pele negra, que a moda era direcionada aos corpos magros e sem curvas e, como ouvi algumas vezes, espaços que não eram para mim. Na escola, lembro uma ocasião no auge do vôlei no Brasil, que assim como todas as outras colegas me apaixonei pelos jogadores de vôlei da seleção. Depois de muito tititi, uma colega me alertou que não era certo eu me apaixonar pelos jogadores, ao perguntar o porquê, ela me respondeu tranquilamente: “Eles são brancos”.
A necessidade constante de posicionamento me tornou a menina questionadora e chatinha, que via problemas em tudo, e depois a adulta ranzinza, pronta para brigar sempre. Mas o que as pessoas não observam é a exaustão que vivem as mulheres negras, lutando frequentemente contra o machismo, sexismo e vulnerabilidade. Fazer diferente, tem sido uma luta diária, mas que tem rendido frutos. Em Montenegro as mulheres negras têm sido a base forte da ACB Floresta Montenegrina. Afinal foi o trabalho das mulheres que reuniram a comunidade, não deixaram o espaço fechar, levantaram do chão e nos fizeram acreditar. O grupo de professoras negras manteve viva a semente plantada nas escolas, discutindo educação antirracista há 30 anos. Somos mulheres que brilham, reconhecidas em votação popular. Somos empreendedoras negras, donas de pequenas empresas locais.
Adentramos a política e quebramos a hegemonia dos 149 anos de branquitude. Estampamos os comerciais de televisão com alcance nacional. Somos Miss Montenegro e parte da corte da festa da Integração. E ainda alguém vai me perguntar: Por que você segue lutando e gritando? Porque no ano de 2022 fomos a parcela de mulheres “esquecidas”, na cidade de Montenegro, como manifestação clara de racismo estrutural. Sendo assim, o 25 de julho é meu e eu vou seguir lutando, porque a data não é de festa e sim de luta. Asè!