No mês da mulher, não teria importância falar de outra coisa que não fosse ser mulher. É como deixar um recado, para outras gerações, da importância dos feitos das mulheres e questionar onde nós, mulheres negras, nos encontramos e nos vemos neste cenário atual. Vou começar fazendo uma saudação às mulheres negras em meio à guerra da Rússia X Ucrânia*, que conforme denúncias têm sido preteridas e humilhadas.
Para quem não sabia, mulheres negras com seus filhos foram impedidas de atravessar fronteiras e, em alguns casos, retiradas dos transportes para dar espaço a pessoas brancas. Que mesmo em um momento tão trágico da história, ditos seres humanos, fazem escolhas baseadas no tom de pele, indicando que mulheres e crianças negras não são prioridade.
Mas, se alguém acha que me espanto, esquece que neste mesmo espaço alertei que mulheres negras além de sexismo, sofriam também preconceito racial. Há poucos dias vimos uma mulher negra ser agredida fisicamente e emocionalmente em rede nacional** no Brasil e precisamos de mobilização em massa das redes sociais para protegê-la. E ainda algumas pessoas vão tentar me convencer que os tempos mudaram e atualmente ser uma mulher negra está mais fácil. Vou te contar uma história… As mulheres negras têm uma trajetória de criatividade, luta e descriminação. Ser uma mulher negra é ter a certeza de que nem sempre terá suas necessidades sanadas, de luta árdua pelo reconhecimento e normalmente sermos minoria em cargos de sucesso.
Mulheres negras são vistas comumente como raivosas, mas o entorno esquece que desde muito cedo, temos essa necessidade de nos proteger e nos defender, o que nos faz altivas e questionadoras. Ouvi muitas vezes que não podia contar com os outros, com a meritocracia, e que para mim o caminho seria mais longo e penoso.Eu, assim como outras mulheres negras, venci, mas não podemos romantizar e agirmos como se isso fosse acessível a todas as mulheres negras. Chamo aqui a atenção para o esforço que é estar frequentemente lutando e precisando ser forte.
A história pontua que, enquanto as mulheres brancas buscavam igualdade de direitos com homens brancos, mulheres negras lutavam para sair da posição de subordinadas, pois sofriam opressão tanto de homens em geral, como de mulheres brancas. E ainda assim, desenvolvemos um senso sororidade, de busca por espaços acolhedores, em que outras mulheres negras sintam-se importantes, respeitadas e protegidas. Eu teria um grande grupo de mulheres para citar, homenagear e contar seus feitos que me enchem de orgulho, mas sou fã de uma mulher negra e artista plástica montenegrina que descobriu a arte depois da aposentadoria e de ter criado os filhos. Sou fã da minha mãe, a Nenena, que é a minha representação de força das mulheres negras, afinal “é preciso ter manha, é preciso ter graça. É preciso ter sonho, sempre. Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”***. Asé para todas as mulheres!
*Invasão do Território Ucraniano pela Rússia em 24 de fevereiro de 2022.
**Reality Show exibido no Brasil
*** Maria, Maria. Música de Milton Nascimento