Intolerância religiosa existe?

Nossa luta recomeça junto com o novo ano. Um novo ano e velhas lutas. Ao fazer aquele balanço do que fizemos e o que queremos, revejo meus passo e sinto o pulsar da negritude em todos os cenários. Hoje quero falar sobre o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa (21 de janeiro) criado por meio da Lei nº 11.635, de 27 de dezembro de 2007. Este dia foi criado com o intuito de promover a visibilidade à luta pelo respeito a todas as religiões.

Quando falamos em um estado democrático entendemos que as expressões de fé são legítimas e direito de todo brasileiro. No entanto sabemos que neste cenário, as religiões de matriz africana ainda são negligenciadas e invisibilizadas. Sabemos que a intolerância religiosa não é algo que atinge apenas uma religião, mas nenhuma outra orientação religiosa foi tão historicamente perseguida como as denominadas Afro-brasileiras, entre elas, umbanda, candomblé e o batuque. Entendemos que estas ações ofensivas são pano de fundo do preconceito racial, afinal a história de fundação da religiosidade de matrizes africanas é fruto da resistência dos escravos no Brasil.

Mesmo o povo brasileiro demonstrando muita fé e sendo detentor de muitos rituais religiosos ancestrais da comunidade negra, a convivência com outras religiões nem sempre é harmoniosa ou empática. Ainda nos dias atuais recebemos notícias de queima e apedrejamento dos terreiros, agressão aos filhos de santo porque vestiu uma roupa que a identifica com a sua religião, linchamento verbal na internet e redes sociais de praticantes que publicam fotos ou manifestações de sua fé ou que compartilhem seus conhecimetos sobre os cultos da umbanda, cadomblé e batuque. Cotidianamente observamos outras religiões manifestarem-se sem conhecimento, promoverem discursos equivocados, que deturpam as práticas de matriz africana.

E aí eu te questiono: por que isto acontece? Por que as religiões de matriz africana não têm o reconhecimento merecido? Tem a ver com o fato de as contribuições da população negra terem sido deslegitimadas na história da formação cultural do Brasil em função do racismo. Desde sempre é sabido que a cultura afro-brasileira e africana faz parte cultura brasileira, então seria visto como natural que pessoas, independente de crença, reproduzam esses cultos.

A diferença é o lugar ocupado por cada herança cultural brasileira: há uma hierarquia que favorece a descaracterização dos costumes e ancestralidade negra, incentivando que seja negada, violada e preterida. Sendo assim o que me resta é resistir.

Axé para quem é de terreiro.

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