Janeiro começa, e a gente avalia o que queremos para esse novo ciclo, as vitórias, as derrotas, os planos e onde queremos chegar. Nesta jornada de conquistas, a saúde mental é um fator importante, pois irá determinar o quanto de energia vamos investir. E, quando se trata do povo preto, o cuidado com a saúde mental não é só uma necessidade, é um arcabouço de recursos que nos faz enfrentar o dia a dia e ter forças para desempenhar nossas lutas. E quando se é mulher preta… estamos falando de um sistema complexo, que envolve redes de apoio, relações, ancestralidade e lugar no mundo. E os questionadores vão dizer: Saúde mental não é só ser feliz? Será que o gênero ou raça e cor faz diferença na saúde mental? Qual é a perspectiva de saúde mental para as mulheres negras?
Então… deixa eu te contar uma história!
Eu sempre convivi com muitas mulheres, sou de uma família de mulheres, sou professora, sou psicóloga e giro em diversos espaços com predominância feminina. Um dos maiores luxos da vida foi conviver constantemente com coletivos de mulheres negras e mulheres negras em movimento (Termo usado para ativistas da causa preta sem institucionalização). Meu entorno repetia constantemente, desde muito cedo, que ser forte não era uma opção e sim a única alternativa. Por muitas vezes ouvi: “Você precisa ser forte.” Uma romantização do sofrimento como condição de vida. Só que, passa despercebido aos olhos de muitos, é que eu sou uma mulher negra. Informação que só deveria ser útil para promover a diversidade, no entanto acaba por intensificar ações hostis. Ou seja, a diferença nesse recorte é que somos incentivadas a tolerar uma carga de estressores, é que a única forma de vencer é com grandes investimentos emocionais. E, se você pensa que a minha função é somente apoiar e acolher outras pessoas, quero te contar que em dezembro, num intervalo de duas semanas, eu e meu filho sofremos agressões racistas. E aí a tal da saúde mental entra em ação, força para reagir, controle para para não desistir, amor para proteger e rede de apoio para me acolher. Agressões repetidas diariamente impulsionam o grande número de adoecimento psíquico e desfechos trágicos.
Por fim, chegamos às seguintes conclusões: A rede de suporte que inclui acesso a melhores condições de vida, educação, alimentação, trabalho entre outras necessidades, nos tornam vulneráveis. A construção da autoestima e o empoderamento social acaba por ser um mecanismo de proteção à saúde mental em várias esferas. Temos observado um crescimento progressivo nos índices de qualidade de vida das mulheres negras, que são a base dos direitos fundamentais é condição indispensável para a saúde mental. Que nossa identidade, estética e história tem rompidos barreiras e nos protegido. Que se reconhecer como mulher negra não é um processo simples, mas que, a partir do momento que nos encontramos, temos mais respeito, maior autocuidado e melhor autoestima. Que o janeiro branco seja para fortalecer mulheres negras e promover ações com o intuito de diminuir índices de ansiedade, depressão entre outras patologias psíquicas que assombram nossa existência. Cuido de mim para poder cuidar de toda aquela que necessitar. IBORU!