O BBB é emblemático para o público e os pensadores. Um misto de crônica da vida real, fenômenos psicológicos, gentrificação e processos sociais. Cada ano elegemos, ou elegem para nós, um tema a ser discutido, uma narrativa e nos envolvemos como se estivéssemos no Show de Truman (Filme do Jim Carey). Eu pensei muitos momentos em escrever sobre as atrocidades que vi, só que tenho a mania de acreditar e esperei o grito de “Davi Campeão” para me manifestar. Manifestar que esse BBB falou sobre diversas camadas da nossa luta contra o racismo estrutural e o preconceito.
Falou de empoderamento negro, letramento racial e juventude preta. Esse BBB é sobre sonhos, esperanças, futuro e reconhecimento do público. E os questionadores questionarão:“ A gente viu o mesmo BBB?” ,“ Onde tu viu tudo isso?” , “Não vai falar do gaúcho?”. Então… deixa eu te contar uma história! Estamos diante do primeiro homem negro a ganhar o BBB, um menino de 23 anos que tornou-se milionário. Ao longo do programa, como já é de costume, fiz todos aqueles processos de … me negar a olhar, espiar de vez em quando, ler a notícias, torcer, me indignar e etc…
E ver falas problemáticas de todos os participantes, o elitismo, o racismo acontecendo em tempo real, nas frentes das câmeras, num primeiro momento é desesperador. Quando começamos a processar o conteúdo, nós damos conta da triste realidade: EU JÁ VI ESSE FILME.
Eu já passei por isso ou conheço pessoas que vivem essa realidade. A única diferença é que não foi gravado e escancarado em rede nacional. Que o não temos o apoio para combater e tirar de circulação o agressor no próximo paredão. Que não há uma indenização de 3 milhões de reais. Romper com as diversas versões do racismo estrutural visto e revisto ao longo do programa é uma batalha que faz parte do nosso dia a dia. No entanto, dessa vez o campeão foi a pauta preta. Quando um negro vence, ascende, cresce, todos os seus vencem também.
Quando temos exemplos, significativos, representativos e adequados, mostramos a nossa força e ancestralidade. Ver mais um jovem negro sair coroado depois de uma batalha, aclamado pelo público, ao vivo, nos faz acreditar no futuro. Davi, a partir do momento que tornou-se o protagonista, principalmente por ser uma pessoa preta retinta em rede nacional, explora o conceito de representatividade, em uma sociedade ainda marcada pelo racismo. O cenário social em que vivemos, foi estruturado a partir da violência e exploração de vidas negras. Por que representatividade é um fator importante no movimeto antirracista, abrindo as trincheiras para a tão sonhada sociedade, diversa, plural e aberta à todos.
E a pergunta que ficou no ar; “Não vai apoiar o gaúcho?” Vou sim. Mas não simplesmente por ser gaúcho, mas por ter demonstrado a todos uma postura antiracista e fazer o seu papel de homem branco, cis, apoiando e se colocando no campo de batalha de maneira digna, E sou do sul, eu mulher, eu negra e sou…
Davi Campeão. Saravá!