A nossa Glória

Mais uma das nossas, tornou-se história e deixou um legado imaterial.. Quem não desejou ser um pouco da Glória Maria? Quem não desejou estar em seu lugar por um minuto na vida. Em tempos em que a presença negra era quase nula, os domingos no fantástico faziam nosso imaginário pensar que era possível. Sua presença glamourosa nos telejornais, apresentando celebridades, grandes eventos, notícias, fatos e pessoas compuseram momentos marcantes na vida dos brasileiros. Mas de fato quem era Glória Maria? Ela não é só mais uma jornalista? Então … deixa eu te contar uma história! Glória Maria Matta da Silva foi uma jornalista, repórter e apresentadora, a primeira repórter negra da televisão no Brasil. Nascida no RJ, em uma família pobre, ela mostrou todas as nuances de ser mulher e negra. Viajou pelo mundo, foi reconhecida profissionalmente, militou a favor das mulheres negras, da adoção e da liberdade de escolha. Em 1970, uma repórter mulher e negra era sem precedentes. De início tímido nos bastidores da notícia no rádio a uma carreira meteórica em que o Brasil passa a se identificar com ela, porque se reconhece, se vê e se reflete.

Abrindo caminho e inspirando outros estudantes negros a investirem na carreira de jornalismo. Carrega no currículo o feito de ser a primeira jornalista a apresentar ao vivo e a cores reportagens do telejornalismo. Modelo de beleza, sucesso, profissionalismo e respeito. Mulher de muitos projetos, passando por cobertura de guerras, voluntariado ao redor do mundo e entrevista com grandes nomes. Em relação à pauta racista, tem importantes posicionamentos sobre ser negro, sobre o quanto só a comunidade negra sabe o que é sofrer discriminação.

Foi vítima de racismo, fez a denúncia e ela mesma fez a reportagem contando esse evento traumático e o seu desfecho. Nas entrevistas ao longo da vida, defende a necessidade de não se calar. Vivenciou a maternidade através da adoção, e o desafio da maternidade preta, onde lutamos constantemente pelos direitos de nossos filhos. Com Glória não foi diferente, precisou ir às redes sociais defender o direito das filhas de escolherem o cabelo que quiserem. De ter o direito a serem donas de sua aparência e não se curvarem às expectativas externas.

Fez moda, foi referência de beleza, foi representatividade. Um segredo, que segundo ela não era segredo, foi sua idade, trazendo à cena o debate de que a idade não define as pessoas, que o tempo de vida não muda quem somos. Lutou bravamente contra o câncer, a favor da vida e com a insegurança intrínseca a todos os mortais. Porque, segundo ela, a vida, o mundo e a história não lhe permitiram ter medo de lutar. Seu exemplo, seu legado, sua representatividade importa sim, porque é o reflexo das mulheres negras, das guerreiras anônimas, das muitas Glórias, das muitas Marias, das jornalistas e de todos aqueles que sabem o seu protagonismo na história. Que ela chegue em Aruanda com a graça e beleza que viveu.

Que a Iabá Iemanjá lhe conduza em sua chegada no outro plano. Que este dia não seja marcado pela tristeza e sim pela passagem desta guerreira por aqui. Obrigado Glória Maria por dividir conosco sua história. Obrigado por ser a nossa Glória. Por muitas Glórias Marias.

Asè.

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