O Doutor Bumbum é a cara do século XXI. Da modernidade, dos tempos de imediatismo, just in time, real time, facetime. O fator tempo é um parâmetro do quanto nos tornamos imediatistas e impacientes. O médico charlatão e irresponsável só ganhou fama e clientela porque há uma sanha por beleza que não se dá ao luxo de esperar. Uma inadiável necessidade de ganhar ou perder alguns centímetros quase em passe de mágica.
Pensemos nos relacionamentos. Há 50 anos, quando duas pessoas se conheciam, existiam certos protocolos que eram, normalmente, seguidos até uma aproximação mais duradoura. Olhares, conversas, trocas de cartas, danças, juras, enfim. Segundo os relatos de nossos pais e avós, era mais ou menos assim.A aproximação era mais devagar. A distância maior. E o tempo passava muito mais devagar. Hoje é tudo diferente. Há telefones, aplicativos, maiores opções de transporte, entre outras tantas transformações tecnológicas e culturais que modificaram completamente o panorama de uma conquista. Os jovens de hoje não têm tempo a perder.
Mas essa velocidade toda tem seu preço, que assola esta geração: a ansiedade. Esta gurizada é mais corajosa, mais conectada, desprendida. Fala mais línguas, muito embora, às vezes, escorregue no português. Quer prosperar, mas se preocupa em saber se o tênis que comprou pela internet não foi feito pelas mãos de crianças inocentes em algum recanto da Ásia. Só que eles sentem uma enorme dificuldade de conviver com a lógica linear de uma organização onde o sujeito entra em um cargo de nível mais baixo, vai fazendo carreira, ganhando promoções, assumindo responsabilidades, tudo a seu tempo. Seu tempo? Tempo de quem? O tempo dessa turma é AGORA. JÁ. O que, invariavelmente, acarreta frustrações.
As vítimas que submeteram-se aos experimentos do médico carioca procuravam, essencialmente, sentir-se melhores o quanto antes. Podemos combinar alimentação e exercícios para perder peso, mas isso leva alguns meses para um efeito prático. Mais fácil buscar fórmulas prontas, milagres e bisturis. Outros impostores surgirão e vão ter relativo sucesso. Na estética, na medicina, no coaching, na cozinha. A era da informação tem muitos avanços. Contudo, traz consigo pelo menos um grande problema: o mito de que problemas complexos podem ser resolvidos com soluções simplistas, assim, num piscar de olhos. Paciência é cada vez mais uma arte rara. E como já dizia a minha profe Márcia, na terceira série: a pressa é inimiga da perfeição.