Eu me lembro bem: há uns 10 anos, talvez, fiquei impressionado pela primeira vez com um grupo de amigos adolescentes em um shopping de Porto Alegre. Eles estavam sentados ao redor de uma mesa, juntos e separados. Sim, porque cada um tinha um smartphone e desfrutava aquele momento coletivo de forma isolada. Nem sei se eram jogos, aplicativos, leitura de mensagens, vídeos, mas o que não esqueci foi que as cenas que antes eram relativas ao continente asiático e toda tecnologia de Japão e Coréia do Sul, agora estavam diante dos nossos olhos.
Situações como essa, em 2019, são banais e fazem parte da paisagem de todos. Outro dia, eu contemplava o pôr de sol do Guaíba quando um grupo de meninas de 18 a 20 anos sentou-se na mesa ao lado. Foi impossível não perceber que o que menos elas fizeram foi interagir e conversar. Nem o sol nem o rio elas viram. Calculo que tiraram 876 selfies, afinal, em uma a maquiagem não ficou boa, na outra a luz estourou, uma espinha ganhou destaque indevido, enfim. Teve foto do suco, do pastel, do cachorro do vizinho.
Hoje, sobretudo os mais jovens, vão a shows, espetáculos, festas e registram cada momento em foto, áudio e vídeo. E, sim, eu sei que eles conseguem fazer muitas coisas ao mesmo tempo, entretanto é preciso apreciar um prato, uma música ou uma paisagem com certo grau de dedicação e concentração para um melhor aproveitamento daquele instante, quem sabe um momento único. O hedonismo ainda tem uma outra face, competitiva. E a decisão do Instagram de não mais expor o número de likes pode, sim, causar uma série de mudanças comportamentais, uma vez que a grama do vizinho até pode continuar mais verde aos nossos olhos, mas não pelo índice de curtidas, pelo menos.
É claro que a velocidade destes tempos nos exige certa atenção que, sabemos, é invariavelmente demasiada aos telefones. Até por segurança, para saber onde estão os filhos, como facilitadores, nos atualizando a previsão do tempo, ou somente para monitorar o que ocorre à nossa volta. Contudo, não deixa de ser curioso e intrigante o fato de que nunca estivemos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes. Além disso, a vida e o pôr de sol ficam muito mais bonitos sem filtros.