Hoje é o dia do professor. E neste segundo turno muito se dirá sobre a importância de valorizar os mestres, priorizar a educação e que as crianças são o futuro do Brasil e do Rio Grande. Pura retórica. Entra ano, sai governo, as coisas pouco mudam.Todos admiram a função de ensinar. Todos batem palmas para os educadores. Mas, de fato, o que o poder público tem feito para qualificar o trabalho dos professores e tornar a profissão atrativa também do ponto de vista econômico?
Sejamos francos, quantos jovens hoje almejam alfabetizar crianças? E vejam que tarefa mais linda e recompensadora é ajudar os primeiros passos de meninos e meninas no caminho das letras e números! Só que admiração não paga contas, aluguel, cursos de qualificação. Vemos o magistério como uma profissão de fé, benemérita, altruísta, um gesto de desprendimento. Ainda que também seja tudo isso, não é o principal. Ser professor é exercer uma profissão, das mais nobres e fundamentais.
E como se isso já não bastasse como um entrave ao incentivo para novos entrantes no ofício, ainda há a falta de estrutura nos colégios, que começa no básico, com paredes caindo, vidros quebrados, obras mal feitas e chega na defasagem tecnológica, criando um hiato entre o mundo do quadro e giz e uma geração que nasce mexendo e tocando nas telas e teclas de smartphones. Além, é claro, da insegurança dentro das escolas, com crianças super protegidas por pais omissos e que transferem noções básicas de educação e civilidade para a instituição de ensino; e fora, com traficantes e facções, que ameaçam o Estado Democrático de Direito literalmente comandando determinadas regiões periféricas.
Segundo a Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico, um professor em início de carreira que dá aula na rede pública nas séries iniciais, no Brasil, recebe em média pouco mais de 10.300 dólares anuais, menos da metade do que é pago na Turquia ou Islândia e três vezes menos que Espanha e Bélgica, e cinco vezes inferior ao que recebe um professor na Alemanha ou Suíça. Sim, não dá para comparar os níveis sócio econômicos destes países com o nosso, mas então saibamos o porquê de estarmos onde estamos. E, em consequência, para onde vamos, se continuarmos olhando para nossos professores como quem exalta uma ação de voluntariado nas horas vagas.