José Otávio Germano tem uma carreira política de 40 anos. Filho do deputado Otávio Germano, elegeu-se vereador em Cachoeira do Sul. Depois, chegou à Assembleia Legislativa, foi presidente do parlamento gaúcho, concorreu a vice-governador em 1998. No governo Rigotto, foi secretário da Segurança. Depois, deputado federal. Também foi dirigente de futebol pelo Grêmio no começo dos anos 2000.
Uma biografia extensa e marcada por denúncias. Na operação Rodin, que investigou irregularidades em contratos firmados no governo Yeda Crusyus e que teriam causado um prejuízo de R$ 44 milhões ao Estado, José Otávio foi condenado porque, de acordo com denúncia do Ministério Público Federal, teria participação direta na organização criminosa ali descoberta. Mesmo após uma condenação, em 2016, seguiu com amplo apoio nas instâncias partidárias, que silenciaram diante dos fatos. Voltou ao cenário político, agora em Brasília, pelos braços do povo, no voto.
Veio a Lava Jato e José Otávio virou réu em março deste ano, pois, segundo a Procuradoria Geral da República, o deputado recebeu vantagem indevida decorrente da cobrança de percentuais sobre os valores dos contratos firmados pela Diretoria de Abastecimento da Petrobras entre 2006 e 2014. O silêncio entre os colegas e lideranças se manteve. Nenhuma palavra.
Há alguns dias, o político voltou a ser destaque na mídia devido a uma confusão de ordem pessoal. Duas transexuais foram até a frente ao prédio onde mora, em área residencial da capital gaúcha, e gritaram para quem quisesse ouvir que “Germano” era cliente, estava devendo dívidas de sexo e drogas e foi preciso a mediação de um policial militar para que elas deixassem o local, com o ressarcimento. Aí sim, foi grave. “A gota d´agua”, disseram importantes figuras da sigla. José Otávio teve as atividades partidárias suspensas. Ficou ruim o clima.
Poucas coisas podem ser mais reveladoras da sociedade brasileira do que essa. Os desvios, o descuido com o recurso público, as relações espúrias entre o público e o privado podem ser ignorados. A relação fora dos padrões convencionais, ah isso já é demais. Não foi só o PP que agiu assim. Muitos o fariam. Aberta ou veladamente. Os partidos políticos são representações de parte de nós. Não é uma questão pontual. É sociológica. Comportamental. Para deixar desenhado, caso não esteja sendo bem claro: não quero defender ou condenar ninguém. Apenas pergunto: o que é mais grave ao interesse público: milhões desviados que poderiam garantir salas de aula e vagas em hospitais, ou uma dívida de A para B e C, fruto de escolhas pessoais e que só dizem respeito aos envolvidos?