Quando vemos os desdobramentos da política nacional como se fossem episódios de um seriado, algumas coisas interessantes acontecem. Nos seriados, sempre têm os personagens sonhadores, os que querem ser heróis, os atrapalhados bem intencionados, os vilões atrapalhados, os vilões simpáticos, os idiotas úteis, os completos imbecis, os covardes, os manipuladores…
O primeiro benefício de ver os acontecimentos políticos como uma ficção vem para a saúde. Paramos de nos indignar tanto com tudo e começamos a ver o lado divertido da coisa. Até porque estamos mais assistindo essa novela, sem conseguir interferir com efeito imediato, do que atuando no staff principal.
Antigamente meu pai ouvia as notícias com grande preocupação, hoje eu pego pipoca. Outra vantagem é que, ao ver um seriado e ter momentos das mais diversas emoções com ele, não nos faz crer que amanhã teremos que pegar em espadas e machados para defender nosso reino, não iremos encontrar anões, dragões, médicos motoqueiros viciados, justiceiros atormentados e mascarados poderosos ali na esquina.
Nossos atores políticos raramente são encontrados por aí também, e quando sazonalmente aparecem, parecem outros, diferentes, mais bonzinhos, mais capazes e corajosos. Isso é maravilhoso! A cada quatro anos, eles atuam dentro da atuação. A pantomima dentro da pantomima, uma espécie de metapoliticagem durante uns meses para depois metanoeleitor por vários anos.
Também na política a maioria dos “fatos” que nos vêm são narrativas, distorções e cortinas de fumaça. Ou seja, meras distrações. Quando uma grande produtora cinematográfica percebe que sua obra não está engajando ou que sua história está cutucando seriamente um tabu de seu público, ela adapta o roteiro ou cancela e começa outra. No meio político, estas estratégias ganham nomes mais pomposos, como “readequação”, “ajuste”, “alinhamento estratégico”, “negociação com as bases”…qualquer coisa para manter o público fixo na novela e apaixonado pelos seus personagens favoritos.
Uma grande diferença, porém, é que um fiasco cinematográfico causa prejuízo a quem o produziu, já o fiasco político é pago pelos fãs.
O legal na política é que, mesmo não sendo, nos sentimos atores, partícipes da trama. Isso porque os capítulos são transmitidos em uma espécie de “10D” numa realidade simulada que vai muito além da visão e da audição. Os grandões fazem uma merda lá em cima, sentimos os respingos dela na nossa cara aqui em baixo; uma tuitada polêmica lá, uma briga de família aqui; uma disputa de egos na corte, uma treta nas redes da plebe. Tudo muito interativo, não é à toa que vicie.
Eu resolvi assistir tudo sem bile, até porque, no capítulo de hoje um é herói, no de amanhã, bandido. Se for para me estressar com mentiras, realidades e versões, que seja com as minhas, não com as de personagens.