O indivíduo senta-se na praça e passa a contemplar seus defeitos. Passam ali a Teimosia, a Impaciência, a Agressividade e a Falta de Humildade Para Reconhecer Erros. Esta última tem seu andar interrompido pela Vaidade. “Com licença, é minha vez! Aliás, todos passaram na minha frente.” A Falta de Humildade, num momento humilde, pois não estava reconhecendo um erro, disse: “Calma! Vamos juntas, afinal somos praticamente irmãs.” A Vaidade, com esgar, olha a Falta de Humildade de cima a baixo. “Sou filha única, querida! Aqui é outro nível. Sou formada, bem melhor que você, que tem falta até no nome.” A Falta de Humildade, com um gesto, chama a Impaciência. A Agressividade, que não pode ver uma treta, vem no vácuo. “Olhaqui, Patricinha do subúrbio, Barbie paraguaia! Fica na tua que tem mais um monte de defeitos pra desfilar, volta pro teu lugar ou te arrebento!” A Agressividade já ia preparando a mão para a seção de esbofeteios quando foi interrompida pela Coragem, uma das qualidades do indivíduo, este, que sentou-se a contemplar seus defeitos.
“O que você está fazendo aqui, fanfarrona? Que eu saiba, o desfile cor de rosa das qualidades é amanhã”, afrontou a Impaciência. A Coragem estufou-se, argumentou que não iria permitir a covardia de duas boçais contra uma idiota. “Alguém me chamou? Já é minha vez?”, disse a Covardia, que estava escondida para ser a última a desfilar. Foi chutada pela Agressividade. A Coragem, imediatamente acerta um heróico murro no estômago da Agressividade, que cai em posição fetal, gemendo e chamando o pai.
O Sr. Trauma chega correndo e babando: “Quem bateu na minha filinha? Nela só bato eu!!”
A Coragem, como não poderia ser diferente, não se intimida com o brutamontes peludo e babão. Pede ajuda à Ousadia, que recusou, pois não sabia se era do time das qualidades ou dos defeitos. A Lealdade até se prontificou a ajudar, mas era tão mirrada e seletiva que pouco poderia fazer. A Coragem estava só. O Sr. Trauma avançava, feito gorila, batendo nos músculos do peito. A Vaidade, sobre seus ombros, ria histericamente. Mas a Coragem era mais ágil e a Vaidade, gorda, deixava os movimentos do Sr. Trauma lentos. Um chute certeiro nos ovos colocou o Sr. Trauma de joelhos. A Vaidade voou dos ombros de sua montaria e estatelou-se no chão, murchando até sumir. A Coragem chegou no ouvido do gorila, que gemia, e disse: “Vocês, traumas machões, adoram mostrar que têm bagos. Eles são o seu maior orgulho, mas também seu ponto fraco.” Isso valeu por uma sessão de terapia, mas o Sr. Trauma não entendeu a simbologia.
A Agressividade, já recuperada, fez menção de empreender ataque contra a Coragem, mas a Ousadia conseguiu lhe desferir um chute no queixo, fazendo-a dormir.
Diante da cena deprimente, a Falta de Humildade alegou: “Não tenho nada a ver com isso, só estava fazendo meu desfile. Vocês que se entendam!” Saiu como se nada tivesse ocorrido. A Teimosia sequer saiu de seu camarim. A Coragem e a Ousadia recolheram-se juntas, com olhares eivados de intenções, pintou um clima interessante de dominação entre as duas.
Papai Trauma, trôpego, levou a filha aos tapas para casa, acusando-a de só arrumar problemas.
A Impaciência já tinha fugido há tempo, a Lealdade ficou sozinha e atônita. A Covardia enterrou-se.
O indivíduo respirou fundo e pensou: “Nossa! Eu tenho uma personalidade forte e complexa!” Levantou-se decidido a manifestar opiniões sobre tudo e todos nas redes sociais.