NhécNhéc

Dizem que deus está nos detalhes, o diabo, nos sórdidos. Uma cama que faz “NhécNhéc” é diabólica. Aquele barulho ritmado e insistente mata a concentração. Você tenta não prestar atenção, até porque tem outros atrativos e atividades mais aprazíveis. Mas um bom paranóico não consegue deixar de pensar que a vizinhança ouve o ruído, cuja frequência atravessa concreto, tijolos e aço. Gritar bandalheiras poderia ser uma alternativa, extrema. Só pioraria o quadro da dor.

Desde as cavernas o homem se esconde para fazer suas necessidades e sexo. Primeiro pela vulnerabilidade que estes momentos de íntima concentração exigem. Para as feras era perfeito, tipo um combo selvagem, “cace um, leve dois, com molho”. Depois, por uma questão de cultura civilizatória, concordamos em confinar as intimidades em quatro paredes. Isso inclui todos sons e ruídos advindos das atividades furunfatórias. Após uma noite de NhécNhéc, encontrar vizinhos no elevador é uma prova social extrema. Em cada rápido olhar, um pequeno demônio com sorriso safado.

Apertar os parafusos da cama, passar óleo nas partes móveis, usar calços, cola e buchas. Perdas de tempo. Conviver com o ruído e usá-lo para controlar o ritmo da atividade, tipo um metrônomo sexual, também não dá certo. É tão broxante quanto um maldito poodle no quarto te olhando. Além do mais, o NhécNhéc é um indício de que a qualquer momento a cama desmonte. Melhor não imaginar o tipo de fratura resultante.

Decidido! Cama nova para um ninho de amor feliz e silencioso.
Na loja a atendente desfiou um rol de benefícios da moderníssima cama box:
– A estrutura é sólida, a base sem pés garante firmeza. O colchão é protegido com tecido lavável e tem molas individuais revestidas, é denso mas também proporciona um movimento bacana quando necessário.

Safadinha! Quinze prestações no cartão de crédito por um “movimento bacana”.

Dos joelhos ralados em uma caverna empoeirada para molas revestidas. Isso que é caminhada evolutiva.

Dá até pra ficar de pé sobre o colchão sem se sentir na areia movediça. Talvez seja viável fazer sexo e pilates ao mesmo tempo.

Dois meses felizes de uso, até que um dia: Nhéc! Um solitário, mas sabemos que é só um batedor, avaliando terreno para um exército de Nhécs. Deveria ser adotada tolerância zero.

No Serviço de atendimento disseram que para reparar, o produto deveria ser despachado para a fábrica. Mas desaconselhavam, afinal era só um pequeno ruído sem importância, que deveria sumir com o tempo. Chamam a gente de fresco com muita fineza.

A solução veio da trindade: sexo, droga (no caso, o Nhéc) e Rock N Roll. Depois de copular a discografia dos Rolling Stones, estão na lista Eric Clapton, Led Zeppelin e outras bandas muito f****.

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