Isolamento

Solidão enlouquece. O ser humano é altamente social, isolamento causa depressão.
O pânico também não gosta de solidão.
Se você estiver em um avião passando por turbulência e uma pessoa começar a entrar em pânico enquanto todas as outras ficam calmas, a tendência é que a calma se mantenha. Se, no entanto, cinco ou seis pessoas entram em surto, é bem possível que o pânico se espalhe.
Isso também acontece com a raiva, a alegria, a euforia… já ouviu falar de “pessoas tóxicas” e “energia pesada”? Dão nomes como aura, energia negativa, etc. ao contágio de estado de espírito. Acabamos copiando instintivamente o humor de quem está próximo. Estamos o tempo todo analisando nosso estado emocional com base nas pessoas que estão à nossa volta. É questão de sobrevivência: se o grupo está assustado, deve haver um motivo, mesmo que eu não o veja.
Quando é por opção, o isolamento periódico ajuda a manter a sanidade mental. Ninguém consegue viver o tempo todo imerso em uma multidão. É preciso um tempo para ouvir os próprios pensamentos.
Agora, isole completamente uma pessoa em uma ilha ou prisão e ela irá perder as referências, os humores sociais e terá que ir decidindo sozinha seu estado de espírito. Essa ausência de referenciais vai moldando a mente para um estado que a sociedade conhece como loucura. Na falta de um ambiente social externo, criamos um interno. Dependendo do tempo de isolamento, o processo é irreversível.
Amyr Klink passou 100 dias no mar em um barco a remo, navegando entre África e América do Sul. Preparou-se mentalmente para a solidão e fez outras incursões ao mar, sozinho. Em 2003, em nova aventura, desta vez em cinco tripulantes. O tempo de convívio confinado, sem internet e com contato limitado com o mundo, gerou momentos insuportáveis de estresse.
Pessoas em pequenos grupos, isoladas de um grupo maior, têm tendência a desenvolver teorias conspiratórias.
Sabe quando lhe excluem de um grupo de Whats App? Pois é, o primeiro pensamento é imaginar o porquê, inflar os motivos, passar para a raiva, sentimento de vingança e começar a falar mal daquele grupo que até então era uma irmandade. Um descompensado em grau mais avançado vai começar a perseguir cada membro do ex-grupo, isoladamente, numa cruzada de recuperação da honra. Imagine o sentimento de quem sai, depois de anos, de uma prisão.
Em resumo: precisamos companhia, senão enlouquecemos, necessitamos privacidade, ou surtamos, certezas nos dão segurança, mas ausência de diferentes perspectivas nos deixa paranóicos. Precisamos de liberdade, mas também de limites. Equilíbrio é fundamental, mas criamos uma sociedade que diuturnamente nos tira do prumo.
Somos, basicamente, loucos suicidas atados por um fio a metros do precipício. Sabemos que facilmente podemos rompê-lo, é só um número suficiente de pessoas gritar “corre, e pula!”

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