Assistia sempre ao Programa da Hebe. Toda a segunda-feira à noite, depois da novela, nas décadas de 1980 e 1990, era rotina de toda a família mudar de canal. Ela nos servia de referência como poucas, como mulher verdadeira, que tinha plena consciência do papel que exercia na comunicação com o grande público, que não tinha medo de expor sua opinião sobre o período histórico e político no qual vivia, era sensível e que se apresentava de maneira exuberante ao vestir-se e adornar-se.
Recebia seus convidados, celebridades dos mais diversos segmentos da época, com a graça de quem recebe amigos em sua casa sem os poupar de perguntas peculiares, muitas vezes indiscretas, mas que a gente adorava saber as respostas.Praticamente íntima dos telespectadores,visto que no Brasil, apresentadores de televisão são glorificados e considerados “amigos próximos” da população. Devido aos quase 70 anos que passou sustentando programas de auditório, Hebe Camargo foi relembrada em 2019 pelo filme “Hebe — A Estrela do Brasil”, agora ampliado como minissérie disponível na plataforma de streaming Globoplay, em 10 capítulos que narram a história da personalidade interessante da “gracinha”. Interpretam a personagem as atrizes Valentina Herszage, na juventude, e Andréa Beltrão, na fase adulta.
No quesito figurino, a produção é impecável ao abordar a construção e a evolução do vestir da personagem: começa pelos sapatos, quando uma Hebe jovem e sem recursos encanta-se pelo ambiente glamoroso do Mappin, elegante centro de compras de São Paulo extinto em 1999, e é convidada a se retirar. Por ironia do destino, ela veio a ser uma das principais garotas-propaganda da empresa na década de 1980. É ótima a cena em que doa o par que está calçando a uma fã e sai do estúdio com os sapatos do sobrinho, Claudio (Danton Mello). Bem como com as poderosas jóias que se dá ao longo da trama, como em uma constrangedora cena em que ela mostra o recibo de devolução das jóias que pertenciam à poderosa família Matarazzo, presenteadas pelo ex noivo, Pepino (Emilio de Mello), a um investigador da Polícia e também quando mostra com carinho seu acervo em momento de intimidade com o filho, Marcelo (Caio Horowitz).
Quanto aos trajes, há uma reverência ao costureiro Dener: quando seu primeiro marido, Décio (Gabriel Braga Nunes) a censura por gastar duzentos mil cruzeiros em um vestido, Hebe argumenta se tratar de um “Dener legítimo” e que se estivesse trabalhando – coisa que ele não permitia, poderia comprar o vestido que quisesse. Também são usados por Andréa Beltrão alguns trajes e acessórios pertencentes ao acervo da família da biografada, como a inseparável medalha de Nossa Senhora, o vestido de paetê preto com ornamentos brancos que simulam asas saindo dos ombros usado na sua estreia no SBT, e o tailleur Dior preto com punhos e gola brancas usado pela apresentadora em sua emblemática entrevista no programa Roda Viva.
Chama à atenção pela ótima releitura trajes que a apresentadora, conhecida por produzir-se mesmo quando informalmente, traduzem sua personalidade extravagante, como golas de pele, óculos escuros cravejados de cristais e jeans bordados. Os cabelos platinados e bem penteados se destacam pela influência do cabelereiro Carlucho (Ivo Müller), que lhe dá o precioso conselho “menos Farrah Fawcett e mais Evita”. Na fase em que a personagem enfrenta o câncer, o uso de perucas é mencionado em entrevista à Marília Gabriela (Fabiana Gugli), em que afirma usá-las para não decepcionar os fãs. Tudo bem ao estilo extravagante e cheio de brilho com o qual crescemos assistindo Hebe Camargo, que segundo consta sua biografia escrita por Arthur Xexéu em 2017, adorava ser chamada pelos amigos de “pinheirinho”.
O Vestir e a Cidade:
Em seu primeiro aninho, Anelise Agnes no colo da mamãe Agar junto do papai Mário. Seguindo os passos do pai, na noite passada ela recebeu a distinção no curso de Medicina pela Universidade Luterana do Rio Grande do Sul/ULBRA. E comemorou a conquista em grande estilo com recepção aos familiares e amigos organizada por Daniel Finger e Andrew Gonçalves no Clube Riograndense.
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