Não deve existir no Brasil tema mais polêmico do que o Bolsa Família. Para alguns, ele representa assistencialismo, que deixa a população mais carente refém dos governantes, sem impulsionar uma melhora de vida e independência. Para outros é um fio de esperança para quem nada tem a oferecer de alimento aos filhos, na mais profunda miséria. Há, ainda, os menos radicais, que apesar de desgostarem da ajuda assistencialista consideram que ela traz garantia de crianças nas escolas e vacinadas. Neste fim de ano, a discussão também atingiu o 13º salário, já que, pela primeira vez, ele foi oferecido no Bolsa Família.
Engana-se quem pensa que essa oferta atinge poucas pessoas aqui na nossa região ou Estado. Quase 7% da população de Montenegro está incluída. São, segundo o dado mais recente, 1.665 famílias. Isto significa que pagamento deve injetar R$ 288.751,00 na economia somente com o abono de final de ano. E, o principal, isto significa que mais lares terão um ceia natalina e que menos crianças começarão 2020 sentindo-se excluídas de uma sociedade que festeja com espumante sem olhar para quem nada tem. Independente de ser ou não beneficiado, é interessante colocar-se no lugar do outro e compreender que, assim como o trabalhador tem um final de ano mais leve com um pouco mais de dinheiro no bolso, quem vive com tão pouco também merece um final de ano menos difícil.
É importante pensarmos, ainda, que vivemos tempos difíceis. Acabamos de sair da fase mais crítica da crise financeira e, enquanto a classe média tenta se erguer, o que fazem os mais humildes, que ainda sequer conseguiram recolocação no mercado? Talvez, para a economia como um todo, não faça grande diferença. Mas, para aquela família, o valor – em média R$ 173,42 em Montenegro – faz sim. Além disso, movimenta uma economia bastante específica: o mercadinho do bairro e as lojas que oferecem produtos a baixo custo percebem o acréscimo na circulação de dinheiro.
Vamos torcer para que muito em breve não sejam mais necessários artifícios como o Bolsa Família. Que sejamos um país desenvolvido, com educação e saúde de primeira qualidade, comida saudável na mesa e pleno emprego, onde é possível ensinar a pescar e não apenas oferecer o peixe.