Desde o fim do ano passado, a população gaúcha enfrenta uma severa estiagem. Na maioria das regiões, de novembro até o fim do fevereiro, as chuvas ficaram em menos da metade da média histórica. Rapidamente, o nível dos reservatórios e dos rios baixou. Nas lavouras, culturas como milho, feijão e soja – para citar só algumas – terão uma quebra de produção importante. Significa menos dinheiro no campo e menos gastos no comércio de muitas cidades. Como consequência, a arrecadação dos impostos também sofrerá um baque. Se já não há recursos nem mesmo para pagar o funcionalismo em dia, dá para imaginar o que vem por aí.
Tudo isso é grave e muito triste porque representa o empobrecimento de um estado que já foi um dos mais ricos da União. Hoje, o governo praticamente não tem mais recursos para investir. Contudo, existe um problema ainda mais grave e urgente a resolver: a falta de água. Em diversas cidades, há decretos de emergência limitando seu uso. Lavar as calçadas e os carros está proibido em Pelotas, por exemplo. Em muitos municípios das regiões Oeste e Sul, só tem água nas torneiras durante a noite. E, nas zonas rurais, para que o gado não morra de sede, as propriedades são atendidas por caminhões-pipa.
Enquanto isso, na zona urbana de muitas cidades, incluindo Montenegro, a população parece alheia a tudo isso. Diariamente, é possível ver gente lavando calçadas com a mangueira aberta, quando poderiam fazer o serviço com baldes e vassouras. Contudo, as maiores perdas ocorrem nos vazamentos de rede, que são responsabilidade da própria Corsan. Com grande frequência, há consertos no perímetro urbano. Entre o rompimento dos canos e o reparo, milhares de litros se perdem.
Embora o fenômeno da seca esteja mais intenso neste verão, estiagens não são uma novidade na região sul. Já deveríamos estar mais preparados para enfrentá-las, através da perfuração de novos poços e reservatórios. Na verdade, cada propriedade rural poderia ter uma cisterna. Sem falar nas inúmeras possibilidades de captação da água da chuva. Infelizmente, assim que as nuvens carregadas voltam, esquecemos de tudo isso. Aí está o grande desafio: pensar em longo prazo e valorizar os recursos naturais. Pode não salvar a lavoura, mas pelo menos demonstrará respeito pelos que sofrem.