Ninguém tem prazer em depender da ajuda alheia, seja ela vinda de um vizinho, estranho ou do poder público. É inconcebível pensar que alguém ficará feliz em pedir por alimentos. Muitos, em situação de miséria, o fazem sentimento profundo de vergonha e humilhação. Há sim, quem trabalha durante o dia para ter o que servir de janta aos filhos, e muitos destes, por orgulho, evitam pedir por doações. Mas isto diz respeito a pessoas de caráter. Na contramão há os “falsos espertos” que, sem necessidade real, pegam o que não lhe é devido sem se preocupar com os demais.
É por estes últimos que a prefeitura de Montenegro realizou uma varredura dos cadastros de famílias que recebem cestas básicas. E acabou encontrando uma série de abusos. De quem, apesar de necessitar, pensava só em si e pegava quantidade além da de direito, casais que fingiam estar separados para retirar um segundo kit e, inclusive, gente que já não era mais desempregado há meses e seguia de mãos estendidas à assistência social do município. É óbvio que quem faz isto são pessoas pobres, com dificuldades de fechar o orçamento no final do mês e, o que economizam no alimento básico, utilizam em coisas do dia a dia, também necessárias. Mas, é preciso entender e respeitar a real destinação de uma cesta básica doada. Ela é destinada a quem realmente não tem condições de comprar comida para a própria família. Quem consegue, mesmo que com dificuldades, deve deixá-las para os mais necessitados.
Se o pente fino nos cadastros era necessário, também se faz celeridade nos ajustes e bom senso para separar o joio do trigo. Ou seja, é importante ter sensibilidade para atender casos emergenciais que surgirem. Além disso, em paralelo a oferta de comida, é importante que essas pessoas tenham alcance a meios – emprego e formação ocupacional – para se recolocarem no mercado de trabalho e assim, no futuro, não seja necessário depender de doações.
Viemos de um ano extremamente difícil, com a crise financeira impulsionada pela sanitária, tivemos o acréscimo de muitos desempregados e também de pessoas que perderam renda, seja por redução de carga horária ou porque eram prestadores de serviço impedidos de trabalhos. Tivemos microempresários colocados, de uma semana para a outra, em situação muito difícil. Por isso, é natural que a área assistencial tenha se visto obrigada a ajudar mais pessoas. O que não é possível é estender os auxílios além do necessário, sobretudo, porque isso impactaria em não ofertar outros serviços, também necessários a toda a população. Devemos, todos, ter respeito pelo dinheiro público.