Apesar de todas as campanhas e leis que surgiram nas últimas décadas para promover a emancipação da mulher e permitir que ela se iguale ao homem em direitos e deveres, a verdadeira isonomia continua sendo uma miragem. Especialmente no Brasil, onde o machismo sempre foi a pedra angular da sociedade. Acreditem: elas vivem mais e têm mais tempo de escolaridade que os homens, mas possuem menor desenvolvimento humano. Isso porque recebem muito menos por sua força de trabalho.
Dados divulgados na semana passada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostram que a renda das mulheres no país é 42,7% menor que a dos homens. Pelo conceito de renda nacional bruta per capita, eles ganham R$ 73.250,22 ao ano e elas apenas R$ 42.004,41. Em contrapartida, as brasileiras vivem 7,2 anos a mais, têm 8 anos médios de estudo (contra 7,7 anos dos homens) e expectativa de passar 15,9 anos na escola (contra 14,9 anos dos homens). Mesmo assim, devido à renda inferior, têm um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) equivalente a 0,755. Para os brasileiros, o indicador é de 0,761. Quando mais próximo de 1, maior é o desenvolvimento.
Segundo o Pnud, o Brasil é um dos países com elevada desigualdade de gênero. Está na 94ª posição num ranking que inclui 160 nações para as quais foi calculado o Índice de Desigualdade de Gênero (IDG). O país onde a situação entre homens e mulheres é mais equilibrada é a Suíça. Já a maior desigualdade está no Iêmen. O indicador inclui dados como taxa de mortalidade materna, gravidez na adolescência, participação no parlamento e no mercado de trabalho.
No Brasil, as mulheres possuem apenas 11,3% dos assentos no Congresso Nacional. O Níger, país com o pior desenvolvimento humano, tem uma taxa maior, de 17%. A participação feminina na Câmara dos Deputados e no Senado brasileiros é a menor da América do Sul e a terceira pior da América Latina, perdendo apenas para Belize (11,1%) e Ilhas Marshall (9,1%). Na Noruega, maior IDH do mundo, as mulheres detêm 41,1% das cadeiras no parlamento. No Iêmen, a taxa é de apenas 0,5%.
Contra dados desta envergadura, não há argumentos. Se queremos a igualdade de gênero – e muitos homens também a defendem – é preciso lutar contra o preconceito. A mulher, mãe, esposa e trabalhadora precisa, sim, ser alvo de políticas afirmativas do Estado, não importa o partido de quem está no poder. É uma questão de Justiça e de humanidade.