Quem faz compras no supermercado percebe que se alimentar está custando caro. A cada semana, alguns produtos têm reajuste e, no rancho mensal, percebe-se, grande diferença. Como o salário não sobe no mesmo ritmo – ao contrário, em tempos pandêmicos, muita gente teve perda de renda – o resultado prático desses reajustes é que se enche menos o carrinho com os mesmos recursos.
Ao ouvir economistas e especialistas em economia doméstica, o mais comum é que eles ofereçam dicas de pesquisa entre estabelecimentos e também a respeito de trocas entre marcas de produtos. São dicas importantes, sem dúvida. E nós sabemos o quão importantes são as ofertas publicadas pelo Ibiá no jornal impresso e nas redes sociais para aqueles que vão às compras atrás de promoções. Mas, as donas e donos de casa sabem que essas atitudes básicas para economizar nem sempre bastam e que, muitas vezes, fechar o orçamento doméstico é necessário abrir mão de alguma compra ou atividade da família para conseguir manter a alimentação em dia.
Supérfluo é uma palavra cujo sentido muda bastante, dependendo das condições de cada família. Se, para alguns, o corte nas compras de mercado para adequar o orçamento significa deixar de fora a compra de um queijo diferenciado ou nem passar no corredor dos chocolates e guloseimas, m outros vai muito além. Há casas onde há muito os ovos substituíram a carne e, nos últimos tempos, até para esta fonte de proteína mais em conta, estão faltando recursos.
A inflação sobre os alimentos é ainda mais grave porque atinge de forma muito intensa as pessoas pobres. Estima-se que, enquanto as famílias mais ricas têm um gasto médio mensal com alimentação de 5% da renda total, entre mais pobres a comida leva pelo menos 26% dos recursos. Há casos em que o comprometimento de renda é ainda maior. Ou seja, R$ 1,00 a mais no arroz tem um impacto muito mais pesado na renda de famílias que vivem com um dois salários mínimos.
A verdade é que por mais ginástica financeira que as famílias façam, em muitos casos não é possível adequar a lista de compras com o dinheiro disponível. Se, por um lado precisamos estender a mão aos que mais precisam e doar alimentos às famílias mais necessitadas sempre que possível, por outro, ações governamentais para frear a inflação real terão de ocorrer. Com o salário mínimo na casa dos R$ 1.100,00, o preço que uma compra mínima de alimentos tem alcançado é insustentável para manter a subsistência da população.