É normal que as pessoas gostem ou não umas das outras. Também é legítimo que se critique aquilo que consideramos errado e se cobre comportamentos adequados daqueles que estão no poder e não nos representam dignamente. O que não se pode aceitar é a ignorância de, por exemplo, postar mensagens de júbilo pela morte de alguém, ainda que a pessoa não tenha sido um modelo de virtudes.
Em tempos de redes sociais, como disse o pensador Umberto Eco, a internet deu voz a uma legião de idiotas que, na semana passada, saudaram com alegria a morte da ex-primeira dama do país, Marisa Letícia. Companheira de Luiz Inácio Lula da Silva, sobre ela recaíam fortes suspeitas de envolvimento direto em esquemas de corrupção engendrados no governo do marido. Vítima de um AVC, ela teve a morte oficialmente declarada na sexta-feira e a família autorizou a doação de alguns de seus órgãos.
Escrever que Marisa Letícia já foi tarde e que será “abraçada pelo capeta” revela muito mais sobre os autores da ofensa do que sobre ela. É de se perguntar em que momento da vida as pessoas se tornaram tão idiotas, a ponto não apenas de pensarem isso, mas de externarem tamanha mesquinhez. Do alto de sua sabedoria, talvez o próprio Umberto Eco tenha nos dado a resposta, ao esculpir mais esta sentença: “Existe apenas uma coisa que excita os animais mais do que o prazer: é a dor!”. Estamos nos tornando animais.