Desertos de notícias

Você sabia que 62,6% dos municípios brasileiros são considerados “desertos de notícias” por não terem nenhum veículo de imprensa para informar a população sobre o que ocorre na cidade? Segundo o Atlas da Notícia, são 37,4 milhões de pessoas que habitam estes municípios. Alguns, principalmente na nossa região, que tem veículos de imprensa, talvez questionem qual – e se há – relevância no assunto. Outros devem imaginar que, tendo acesso pela televisão ou internet a veículos nacionais, estes suprem a necessidade local de informação.
Mas pensem: qual a chance de os problemas do seu bairro serem destacados em um jornal de alcance nacional pela TV? Muito pequena. E isto é natural, afinal estes veículos estão voltados aos temas que repercutem em todo o país, não os da sua rua. O mesmo vale para as notícias positivas. O surgimento de uma pequena e importante empresa ou a festa da associação comunitária podem – e devem – ir parar na capa do Ibiá. A proximidade que um jornal local tem com a sua comunidade, suas demandas e necessidades, está intimamente ligada a sua razão de existir. Quando uma comunidade não tem um jornal forte e combativo, ela não sabe como o prefeito e os vereadores estão gastando os impostos. E, especialmente neste caso, informação vale dinheiro. Sem saber, ela não cobra. E sem cobrança, infelizmente, o dinheiro rende muito menos, seja porque se perde na incompetência, na burocracia ou na corrupção.
Muita gente dirá que hoje, em tempos de rede social e WhatsApp, a informação se tornou disponível a todos. Sim, tornou-se. Mas apenas a primeira camada de informação, aquela que não dá trabalho para obter. A foto de um acidente com morte qualquer um faz e posta em instantes. Mas explicar o que o causou ou, ainda mais importante, cobrar medidas para que aquela via se torne mais segura apenas o jornalismo profissional faz. As eleições são outro exemplo. De informações da obra que foi inaugurada ou o projeto com apoio popular em discussão na Câmara você será bombardeado. Mas qual gestor público envia para a sua comunidade o número de pessoas que aguardam operação tapa buraco na sua rua?
A informação que faz a diferença na sua vida, checada e conferida, essa não está no grupo da família. Sabe a razão? É que isso dá trabalho. E consome muito tempo. A professora, o médico, o pedreiro, o engenheiro ou a cozinheira não usam seu tempo questionando o poder público sobre estes assuntos. Não é a sua função na sociedade. Mas é a do jornalista. Nossa rotina, para a qual estudamos e nos preparamos. E nós, do Jornal Ibiá, temos o orgulho de cumpri-la diariamente. A continuidade deste trabalho depende de todos. Ou seremos, no futuro, outro deserto de notícias?

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